A lista deste ano reflete o pensamento de que o poder não cabe mais apenas àqueles que estão no topo de suas respectivas hierarquias, mas também àqueles que chacoalham a forma usual de fazer as coisas
O coletivo indonésio ruangrupa lidera o 21º ArtReview Power 100. Fundado por artistas em Jacarta em 2000, o ruangrupa é o primeiro curador da Ásia na Documenta, considerada por muitos como a exposição recorrente mais importante no calendário global de arte contemporânea. É a primeira vez que um coletivo de artistas ocupa a primeira posição da lista, assim como a primeira vez que um grupo de artistas dirige a Documenta.
Neste período em que muitos aspectos do mundo da arte – feiras de arte, leilões e a abertura de novas sedes de megagalerias pelo mundo – pareciam simplesmente voltar ao normal pré-pandêmico, o ruangrupa rompeu com velhos modelos ao criar uma exposição que destacava a prática coletiva ao invés da prática individual, propunha o networking como parte essencial do mundo da arte e introduzia uma abordagem de código aberto para a produção artística. Privilegiando a construção de comunidades em vez de reputações individuais, a Documenta contou com o trabalho de mais de 1.500 indivíduos (resultado dos próprios participantes convidando outros artistas), mas não foi isenta de polêmica. Toda controvérsia gerada indicou como a Documenta de ruangrupa testou as normas institucionais do mundo da arte europeu, colocando em questão sua capacidade de se adaptar a ideias e práticas de trabalho não europeias.
- Estrelas das Bienais: quem são os 17 artistas mais presentes nas últimas mostras internacionais
- Quem são os artistas mais influentes da década?
- Um ano de disrupção criativa? Nan Goldin, Ruangrupa e ativistas climáticos ocupam os primeiros lugares na lista dos 100 melhores da Monopol
Cecilia Alemani (2) provou ser uma influência disruptiva no outro grande evento de arte deste ano, a Bienal de Veneza, que incluiu apenas 22 homens entre os 213 participantes. Enquanto isso, a fotógrafa Nan Goldin (8) instigou notavelmente uma profunda mudança na ética do patrocínio de museus. É o tipo de postura política sensata que Hito Steyerl (4), o artista individual mais bem colocado, há muito defende. Enquanto isso, o coletivo Forensic Architecture (25) continua expandindo o papel da arte na sociedade para além do espaço expositivo por meio de suas investigações judiciais sobre crimes sociais e ambientais; os artistas Zanele Muholi (28) e Ibrahim Mahama (47), e o coletivo blaxTARLINES (98, que conta com Mahama como membro) têm usado seu sucesso para fortalecer a infraestrutura de base na África do Sul e Gana, respectivamente.
O Power 100 é moldado pela contribuição de mais de 30 membros e colaboradores de todo o mundo, que consideram três critérios de inclusão: os presentes na lista devem ter estado ativos nos últimos 12 meses; suas atuações devem moldar os desenvolvimentos atuais da arte; e seu impacto pode ser considerado global e não local.
A lista tem sido vista como o registro de como a mudança em uma parte do mundo da arte afeta outras mudanças: o arquiteto David Adjaye retorna à lista (78), reconhecido por uma prática de design que vai além de fornecer espaço no qual outros programam, para uma abordagem mais aprofundada da construção de museus, ligada a questões de reparações e identidade negra; o poeta Fred Moten (5) e o acadêmico Saidiya Hartman (38) inspiraram uma geração de artistas em seu desvendamento de histórias raciais, com as ganhadoras do Leão de Ouro Simone Leigh (7) e Sonia Boyce (33) se juntando a Carrie Mae Weems (22) e Otobong Nkanga (81) na lista.
Artistas, curadores e pensadores que lidam com ideias indígenas aparecem ao longo da lista, do Karrabing Film Collective (21) ao artista Brook Andrew (41) e à curadora Clothilde Bullen (100). Aqueles que defendem um melhor equilíbrio entre a humanidade e a natureza em oposição ao capitalismo global contemporâneo – um tema importante na produção artística atual – incluem as pensadoras Anna L. Tsing (13), Donna Haraway (16) e Judith Butler (37), as artistas Cecilia Vicuña (29) e Anicka Yi (57), e a curadora Lucia Pietroiusti (90).
O brasileiro Adriano Pedrosa, diretor artístico do MASP, volta à lista sete anos depois da sua última inclusão, ocupando agora o 59º lugar.
Confira os 10 primeiros lugares deste ArtReview’s Power 100:
- ruangrupa, coletivo de Jakarta, responsável pela curadoria da Documenta
- Cecilia Alemani, curadora, Diretora Artística da 59ª Bienal de Veneza
- Unions, movimento ativista responsável pela Ação coletiva entre artistas e trabalhadores de museus
- Hito Steyerl, artista, por suas declarações políticas e experimentação formal
- Fred Moten, pensador, poeta, crítico e teórico americano que inspirou uma geração de artistas
- Wolfgang Tillman, artista – Fotógrafo célebre assumindo o manto de um velho estadista da arte
- Simone Leigh, artista, escultora e ganhadora do Leão de Ouro na Bienal de Veneza deste ano
- Nan Goldin, artista, fotógrafa lendária, ativista e tema de um documentário de longa metragem
- David Zwirner, galerista, líder de um império de galerias em expansão em Nova York, Londres, Paris e Hong Kong
- Darren Walker, filantropo, Presidente da Fundação Ford