O volume de vendas do mercado de arte de arte ultracontemporânea mais do que dobrou desde 2019. O que está impulsionando este boom?
Ao acompanhar os leilões recentes, percebemos que as disputas mais acirradas não estão apenas concentradas em trabalhos de destaques anteriores, como Mark Rothko ou Jackson Pollock, mas expandiram para pinturas recentes de artistas bastante jovens.
O termo “arte ultracontemporânea” foi adotado pela Artnet para designar trabalhos feitos por artistas nascidos após 1974 – que é de longe o segmento de crescimento mais rápido do mercado de arte. E seu impulso só aumentou durante a pandemia. Nos primeiros oito meses de 2021, US$ 462,5 milhões em arte dessa categoria foram vendidos em um leilão. Isso representa um aumento de 75% em relação ao ano de 2020 e 145% em relação a 2019.
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No início de outubro, a Sotheby’s anunciou que lançaria uma nova venda noturna em Nova York chamada “The Now”, dedicada exclusivamente à arte feita nas últimas décadas. É um sinal de quão robusto este mercado se tornou – e com qual rapidez.
O gráfico abaixo conta a história da forma mais clara possível:
Primeiro, é preciso contextualizar essa “divisão” do mercado mais recente, necessária para que possamos ter uma precisão um pouco maior sobre as influências e os dados. Isso porque, muitas vezes, não faz sentido agrupar nomes como Andy Warhol, que morreu em 1987, e Avery Singer, que nasceu em 1987, na mesma categoria – quais tendências seriam obscurecidas, desta forma? Ao criar esta nova divisão, considerando artistas nascidos a partir de 1975, é possível dar visibilidade aos talentos mais jovens com o fortalecimento dos mercados secundários.
Ao acompanhar as disputas de lances por obras de artistas como Matthew Wong, Avery Singer e Emily Mae Smith, identificamos que mercado está borbulhando – foi o segmento menos afetado pelo lockdown, caindo apenas 1,3% no primeiro semestre de 2020. Também foi o que se recuperou de forma mais rápida.
De janeiro a junho deste ano, as vendas na categoria aumentaram para US$ 302,6 milhões – quase 300% acima de seu pico mais recente em 2019. Agora, o tamanho do mercado de arte ultracontemporânea vem rivalizando com o dos antigos mestres, que registrou US$ 338,2 milhões em vendas no primeiro semestre do ano. (Para uma perspectiva: o primeiro gênero cobre a arte feita ao longo de menos de 50 anos; o último, mais de seis séculos.)
Ainda que este impulsionamento seja dado pelo volume de novas obras, os preços também estão subindo. Em 2013, o preço médio de uma obra de arte ultracontemporânea em leilão foi de US$ 25 mil. Em 2021, esse número dobrou para US$ 51.415.
Esta explosão pode ser atribuída a vários fatores. Primeiro, os colecionadores da geração Y (e até mesmo da Geração Z) são uma força crescente no mercado e estão interessados em colecionar trabalhos de artistas de sua própria geração, assim como seus pais.
Essa nova safra de colecionadores também é mais motivada pelo lucro do que seus antecessores. Um relatório recente da Deloitte descobriu que 64% dos colecionadores com menos de 35 anos citaram o retorno do investimento entre os fatores mais importantes em suas aquisições de arte, em comparação com 30% dos colecionadores com 35 anos ou mais.
Embora muitos desses compradores tenham se beneficiado do dinamismo dos mercados de ações e criptográficos nos últimos 18 meses, eles provavelmente não estão em posição de gastar US$ 40 milhões em um Rothko. Alguns deles, no entanto, preferem gastar US$ 200 mil em uma pintura para ter a chance de lançá-la dois anos depois pelo dobro do preço do que pagar US$ 20.000 por algo que eles acham que não tem valor de revenda.
A força do mercado asiático
Um relatório anterior da Artnet mostra que os colecionadores asiáticos têm sido extremamente ativos neste segmento. Obras recordistas de artistas como Avery Singer, Joel Mesler, Jonathan Chapline, Genieve Figgis, Amoako Boafo e Javier Calleja, vendidas nos leilões deste ano em Hong Kong, foram todas compradas por colecionadores asiáticos com 45 anos ou menos.
Em 2020, a Ásia respondeu por quase metade (47%) das vendas de arte ultracontemporânea em leilão, enquanto os EUA ficaram com pouco menos de 30% e a Europa a seguiu com 23% de participação.
Até agora, neste ano, os EUA assumiram a liderança nas vendas de arte ultracontemporânea – mas essa mudança provavelmente se deve em grande parte ao leilão de US$ 69 milhões do Beeple’s Everydays NFT, pela Christie’s New York.
Quem são as grandes estrelas deste mercado?
Nos primeiros oito meses do ano, os melhores desempenhos em termos de vendas totais no leilão são os seguintes:
- Beeple (1982): US$ 69,6 milhões
- Matthew Wong (1984–2019): US$ 30 milhões
- Adrian Ghenie (1977): US$ 24,3 milhões
- Ayako Rokkaku (1982): US$ 12 milhões
- Dana Schutz (1976): US$ 12 milhões
- Avery Singer (1987): US$ 10,9 milhões
- Jonas Wood (1977): US$ 9,4 milhões
- Salman Toor (1983): US$ 8,9 milhões
Esses artistas estão em diferentes estágios de suas carreiras – Schutz e Wood têm currículos repletos de exposições em museus internacionais, por exemplo, enquanto Rokkaku teve comparativamente pouca exposição fora da Ásia. Poucas pessoas no mundo da arte já tinham ouvido o nome “Beeple” antes de março.
Mas todos os nomes da lista acima (ou quase, exceto Beeple) têm algumas coisas em comum. São pintores figurativos que fazem trabalhos de difícil acesso para colecionadores no mercado primário, o que eleva seus preços nos leilões. Além disso, eles geraram individualmente mais dinheiro em leilão até agora neste ano do que Francis Bacon, Robert Motherwell, Hokusai ou Georgia O’Keeffe.
Texto original de Julia Halperin, na Artnet