Após o adiamento de um ano devido à pandemia, a mostra Faz escuro mas eu canto apresenta mais de mil trabalhos de 91 artistas
Em cartaz desde 4 de setembro, a 34ª Bienal – Faz escuro mas eu canto recebe os visitantes seguindo rígidos protocolos. A curadoria é de Jacopo Crivelli Visconti (curador geral), Paulo Miyada (curador-adjunto), e Carla Zaccagnini, Francesco Stocchi e Ruth Estévez (curadores convidados). A visitação se estende até 5 de dezembro, com entrada é gratuita.
A edição, iniciada em fevereiro de 2020, vem se desdobrando no espaço e no tempo com programação tanto física quanto on-line, e culmina na mostra coletiva que ocupa o Pavilhão Ciccillo Matarazzo, simultaneamente à realização de dezenas de exposições individuais em uma rede de mais de 20 instituições parceiras na cidade de São Paulo.
Mais de 1.100 obras estão expostas no Pavilhão no Parque Ibirapuera. Entre os artistas desta edição, há representantes de todos os continentes. A distribuição entre mulheres e homens é equilibrada, e cerca de 4% dos artistas identificam-se como não-binários. Esta será, ainda, a Bienal com a maior representatividade
de artistas indígenas de todas as edições com dados disponíveis, com 9 participantes de povos originários de diferentes partes do globo (aproximadamente 10% do total).
Obras para além do Pavilhão
Com a intenção de ampliar os diálogos estabelecidos entre as obras e seus contextos e os possíveis pontos de contato com o público, a 34ª Bienal apresenta intervenções temporárias fora do Pavilhão da Bienal, no Parque Ibirapuera, dos artistas Clara Ianni, Eleonora Fabião, Grace Passô, Jaider Esbell, Paulo Nazareth e Oscar Tuazon. “Assim como o que se vê dentro do Pavilhão reverbera exposições que se relacionam com diferentes contextos urbanos, diversas obras da mostra convivem com o cotidiano do parque, ora integrando-se à sua paisagem, ora refletindo o seu papel como espaço icônico e simbólico”, explica Paulo
Miyada, curador adjunto desta edição.
Enunciados
Um dos elementos centrais na concepção curatorial da 34ª Bienal de São Paulo é o fato dela ser pontuada por 14 enunciados: elementos que não são obras de arte, mas possuem histórias marcantes, capazes de sugerir leituras às obras dispostas ao seu redor. A curadoria recorre a esses itens como forma de buscar uma linguagem capaz de delinear os campos de força criados pelo encontro de obras produzidas em lugares e momentos distintos sem, no entanto, limitar as leituras a temas ou conceitos específicos.
Dentre os enunciados, encontram-se objetos materiais e simbólicos bastante diversos. O primeiro enunciado a ser encontrado pelo visitante, no térreo, é composto por três objetos pertencentes ao acervo do Museu Nacional que sobreviveram de diferentes formas ao incêndio: o meteorito Santa Luzia, que, temperado por sua viagem pelo espaço sideral e pela entrada na atmosfera terrestre, permaneceu incólume; uma ametista que, ao passar muito tempo exposta a altíssima temperatura, adquiriu a coloração do citrino (um quartzo amarelo); e uma ritxòkò, boneca que foi doada ao Museu Nacional após o incêndio por Kaimote Kamayurá, da aldeia Karajá de Hawaló, na Ilha do Bananal (TO), para substituir uma que havia sido destruída pelas chamas e ajudar na reconstituição da coleção. Reunidos, esses 3 objetos nos mostram como resistir pode tomar diversas formas.
Dois outros enunciados já puderam ser vistos pelo público que visitou a exposição Vento, realizada em novembro de 2020: O Sino de Ouro Preto e os Cantos tikmũ’ũn. Os outros 10 enunciados a integrar a exposição são: A ronda da morte, de Hélio Oiticica; Cadernos de Carolina Maria de Jesus; Dois bordados de João Cândido; Cartas de Joel Rufino para seu filho; Corte/Relação em Antonin Artaud e Édouard Glissant; A imagem gravada de Coatlicue; Círculos (a partir) de Paulo Freire; Hiroshima mon amour de Alain Resnais; A dedicatória de Constantin Brancusi; e Cerâmica Paulista.
Os 70 anos da Bienal de São Paulo
O ano de 2021 é, ainda, uma data importante para a história das Bienais de São Paulo por marcar o aniversário de 70 anos da 1ª Bienal (1951).
“Ao longo dos últimos 70 anos, as Bienais de São Paulo adaptaram-se aos tempos, e foram justamente sua capacidade de mudança e sua abertura ao novo que asseguraram que a mostra mantivesse sua relevância artística e cultural. A 34ª Bienal de São Paulo, de alguma forma, simboliza isso: em tempos desafiadores, encontramos maneiras de nos mantermos fiéis à proposta desta edição sem, no entanto, ficarmos presos em ideias e projetos que haviam perdido sua pertinência no novo contexto global. No último ano, intensificamos nossa programação digital e descobrimos novas maneiras de nos conectar com o público, às quais pretendemos dar continuidade nas próximas edições”, afirma José Olympio da Veiga Pereira, presidente da Fundação Bienal de São Paulo.
34ª Bienal de São Paulo – Faz escuro mas eu canto
de 4 de setembro a 5 de dezembro de 2021, com entrada gratuita
Acesso mediante apresentação de comprovante de vacinação contra Covid-19, impresso ou on-line