Sob influência das mudanças rápidas adotadas com o impacto do virus e do lockdown, a casa de leilões faz suas apostas para este novo cenário
Em 2019, quando Charles Stewart foi nomeado CEO da Sotheby’s, ele sabia que 2020 seria um ano de grandes mudanças. Mas elas foram maiores do que o esperado quando, devido às restrições causadas pela pandemia do coronavírus, sua primeira temporada de leilões enfrentou um lockdown global, em meados de março. Entretanto, quando sua missão é continuar a levar uma empresa de 276 anos para o futuro digital, provavelmente mudar mais é melhor do que menos.
“Quanto mais tempo os bloqueios e restrições atuais permanecem, mais fracos se tornam os hábitos pré-Covid”, disse Stewart. “Não está nada claro para mim se tudo volta ao normal”.
Ninguém está sugerindo que o ano passado foi fácil. A Sotheby’s assumiu a liderança com seu formato de leilão, criando uma venda ao vivo que apresentava seus especialistas como os personagens principais no drama dos lances. “Continuamos voltando à ideia de que o cerne da empresa está na expertise”, diz Stewart.
As vendas com transmissão ao vivo foram o lado mais visível da resposta da casa de leilões à pandemia. “Houve um período de adaptação massiva”, disse Stewart. “Este ano é diferente. Agora sabemos que podemos operar basicamente em um ambiente remoto. Este ano, é uma questão de olhar para a adaptação e perguntar quais partes disso foram realmente inovadoras – quais queremos tornar estratégicas e quais éramos apenas nós tentando lidar com o momento”.
Com tudo isso em mente, Stewart e sua equipe repensaram sobre o futuro do mercado de arte e apresentaram oito previsões para 2021 – uma janela para as deliberações de uma das maiores casas de leilão do nosso cenário. São elas:
Novos sites e eventos personalizados
O mundo da arte anseia pela comunicação pessoal e uma mudança de cenário. Haverá renovação nas experiências físicas, quando puderem ser novamente realizadas com segurança, e veremos uma resistência duradoura a eventos de grande escala e uma maior demanda por eventos presenciais exclusivos e de alta qualidade com um componente digital imersivo. Além disso, haverá um foco maior na apresentação da arte em locais únicos e inovadores, aproveitando os espaços públicos e as redes virtuais fora dos estabelecimentos.
Expansão do público virtual
Essa audiência de compradores continuará a expandir em 2021, à medida que a rápida transformação tecnológica e a adoção de canais digitais permanecerão sempre presentes. Esse conjunto abrangente de ferramentas digitais não apenas derrubou as barreiras de entrada, mas reduziu a necessidade de ver ou manusear as obras pessoalmente antes da compra. Como resultado, o número médio de vezes que uma obra é vista se multiplicará exponencialmente.
Nova ênfase na sustentabilidade
O mundo da arte continuará a fazer avanços significativos no avanço das iniciativas de sustentabilidade e na redução de sua pegada de carbono. Desde a eliminação de catálogos impressos, convites e embalagens em excesso no transporte e manuseio de arte, até repensar a necessidade de viagens aéreas internacionais para feiras e exposições de arte, haverá um maior consenso sobre como reduzir o desperdício e incorporar práticas mais sustentáveis.
Local será o novo global
Impulsionado pelas restrições das viagens, o local será o novo global. Tendo inevitavelmente passado muito mais tempo do que o costume em suas cidades e áreas natais, muitas pessoas passaram a apreciar mais intensamente o senso de identidade regional. Isso significará que os estilos e movimentos locais se tornarão mais reverenciados, impactando no que as casas de leilão e galerias escolherão expor.
Leilões híbridos substituirão o modelo antigo
Seguindo o aumento contínuo das categorias cruzadas em 2020, que ofereceu arte contemporânea ao lado de carros e objetos de design, os leilões que integram departamentos diversos continuarão e aumentarão em volume em 2021. Semelhante às exposições em museus, mais leilões serão contextualizados por época ou um tema específico, em vez de um departamento único.
Consolidação dos players do mercado
As distinções entre feiras de arte, galerias e casas de leilão continuarão a se confundir em 2021, conforme os mercados primário e secundário convergem em uma escala ainda maior do que no ano passado. Com base nas barreiras que foram derrubadas em 2020, os players passarão por uma reconfiguração devido à consolidação de informações e à ampla disponibilidade delas.
Crescimento do mercado asiático
A força do mercado na Ásia sofreu uma mudança radical em 2020, com um fluxo constante de novos compradores mais jovens e uma base de compradores expandida, com maior participação entre categorias. Isso continuará em 2021. A demanda por obras de artistas ocidentais e emergentes continuará a aumentar, bem como uma forte valorização pelas obras clássicas e de luxo.
Hubs africanos de arte serão novas atrações
O número de projetos movidos por artistas em toda a África, juntamente com o entusiasmo recente por pinturas figurativas de jovens artistas do continente, resultará em um maior interesse na arte africana e na história da arte, que será reforçada pela capacidade do continente em participar digitalmente, em maior escala, no mercado. Assim que for seguro viajar novamente, vários centros na África estão se preparando como destinos para as artes – entre eles cidades como a Cidade do Cabo, Lagos e Benin City, onde novas instituições estão sendo construídas.
Fonte: Art Market Monitor