Ao longo de 28 anos, as obras foram mantidas em segredo. Agora, cerda de 600 peças da artista estarão em exibição na Suíça
Depois de serem mantidas a sete chaves em seu estúdio por 28 anos, 600 desenhos, colagens, estudos e escritos dos arquivos pessoais de Kara Walker serão exibidos no Kunstmuseum Basel. A exposição, idealizada pelo departamento de gravuras e desenhos do museu (Kupferstichkabinett), está programada para acontecer no terceiro espaço do Kunstmuseum conhecido como Neubau. Será a primeira grande exposição individual da artista americana na Suíça.
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A negociação do Kunstmuseum com Walker e sua galeria, a Sikkema Jenkins, acontece há vários anos. “Convidei Kara Walker para fazer uma exposição no Kunstmuseum Basel e propus um foco nos seus desenhos e não nos seus recortes. Ela gostou da ideia de mostrar o seu trabalho num museu que tem uma das mais antigas coleções públicas de gravuras e desenhos. Poucos meses depois, Kara decidiu que estava pronta para examinar o seu próprio arquivo e ofereceu-se para abri-lo numa mostra em Basel”, disse Anita Haldemann, curadora da mostra. A galeria Sikkema Jenkins apresentou um resumo da exposição de Basel no seu espaço em Nova York em março do ano passado.
“Ela escondeu estes desenhos do público e muitas vezes de si mesma, por serem íntimos, dolorosos ou muito chocantes para encará-los ou para confrontar o público com eles. Alguns simplesmente sobraram das exposições ou ela não tinha certeza se eram bons o suficiente para serem exibidos”, diz Haldemann.
A mostra vai abranger toda a carreira da artista e não apenas apresentar os seus destaques. Se a pandemia permitir, a própria Walker instalará a exposição em três grandes galerias no nível inferior do Neubau, bem como na ampla passagem que leva ao antigo prédio do museu. Walker quer que a exposição se apresente como “desarrumada”, explica Haldemann.
“Mesmo que a sua mostra esteja num museu, ela quer que seu arquivo inunde os espaços brancos e confronte o espectador com a sua grande variedade de imagens e mensagens, com a intimidade e os lados sombrios da sua imaginação”. Será “como uma grande instalação”, diz ela. Walker também teve vitrines especiais projetadas que foram construídas em Basel para “mostrar as peças mais íntimas”.
Walker é conhecida por enfrentar questões desafiadoras e divisivas, como racismo, identidade, violência, gênero e sexualidade por meio de uma abordagem meticulosa e técnica. Ao exibir o seu arquivo pessoal, a mostra espera lançar uma nova luz sobre a prática artística de Walker.
A abundância de desenhos no arquivo revela as múltiplas influências históricas da arte de Walker. Da técnica de Goya e contrastes claro-escuro à linha vibrante de James Ensor e os esboços satíricos de William Hogarth, os maiores desenhistas do mundo, com a sua perspectiva inflexível sobre os acontecimentos da sociedade, que encontram ecos no trabalho de Walker.
“O programa também deixará claro o quão relevante é o seu trabalho hoje, como este está relacionado à situação política nos Estados Unidos e também ao movimento Black Lives Matter”, diz Haldemann. Além disso, a exposição apresenta uma série de novas obras, como seus polêmicos retratos do ex-presidente Barack Obama.
Fonte: The Art Newspaper