Hélio Oiticica: um Cosmos

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Lisson Gallery exibe obras-chave do artista brasileiro em Nova York

Três anos depois do Whitney Museum comemorar os 80 anos do nascimento de Hélio Oiticica com uma extensa retrospectiva, outra extensa mostra dedicada ao brasileiro chega a Nova York, para estudar o amplo impacto da produção do criador carioca na arte da seu tempo e hoje. Oiticica também influenciou outras áreas da cultura de vanguarda do Brasil, como a música, o teatro e a literatura. A exposição de Oiticica permanece em cartaz na Lisson Gallery até 12 de dezembro de 2020.



O artista desafiou as convenções quando se tratou de despertar os sentidos do espectador diante de suas obras e também a consciência íntima de estar vivo e habitar um mundo estimulante. Viveu apenas 42 anos, mas a evolução da sua obra pode ser comparada a de um artista longevo: começou a pintar e a desenhar geometrias, para posteriormente utilizar nas suas investigações sensoriais de esculturas, instalações arquitetônicas, escrita, cinema e ambientes imersivos, buscando sempre que aqueles que contemplam suas obras não sejam espectadores passivos, mas sim participantes.

Hélio Oiticica en Lisson Gallery. Estate of Hélio Oiticica

Pensador prolífico e inquisitivo, ele trouxe seu estudo das possibilidades de estruturas e cores para o reino da experiência, instalações interativas, com ambientes cosmológicos e idéias que guiaram sua abordagem da arte e da vida.

Os dois espaços da Lisson Gallery em Nova York exibem uma seleção de trabalhos relevantes de Oiticica, começando pela instalação de grande porte Tropicália (1966-1967), a primeira das dimensões arquitetônicas que o artista desenvolveu e também o início de uma série de obras em que buscou retratar o Brasil de uma perspectiva crítica. Oiticica responde aos clichês que associamos a este país: sua associação com paraísos tropicais, suas cores vivas, pássaros e flores exóticas.

A nítida caracterização da complexa identidade do Brasil contemporâneo que a Tropicália contém inspirou o título do hino popular de Caetano Veloso contra a ditadura, mas também deu origem a um movimento cultural mais amplo relacionado com o dinamismo cambiante da cena brasileira: o tropicalismo. Muitas vezes considerada a obra mais relevante de Oiticica, por reunir as diversas disciplinas que percorreu em sua curta trajetória, a instalação já fez parte de mais de vinte exposições desde sua criação e há três versões dela: além da que agora expõe em Nova York, outras estão no acervo da Tate Modern em Londres e no Museu Reina Sofia.

Hélio Oiticica en Lisson Gallery. Estate of Hélio Oiticica

Projeto Cães de Caça também está sendo exibido em Nova York, obra que abriu precedentes para grande parte de sua produção posterior ao combinar trabalho colaborativo e busca de contemplação, ação experiencial e interação por parte dos espectadores. Junto com o Projeto Cães de Caça, o Lisson apresenta outros modelos de projetos de grande porte ainda não realizados: Subterranean Tropicália Projects (1971) e Ready Constructible 1 (1978).

Sabemos que a gênese das ideias de Oiticica para seus projetos mais ambiciosos partiu de seus primeiros trabalhos no papel, onde cor e estrutura começaram a se tornar inseparáveis ​​e apontavam para a terceira dimensão. A seleção de trabalhos de guache em papelão exibida na 508 West 24th Street demonstra a importância da geometria e da intuição na prática inicial de Oiticica e também seu compromisso com o trabalho de modernistas europeus como Paul Klee, Piet Mondrian e Kazimir Malevich, a influência de seus estudos com Ivan Serpa e sua associação com o Grupo Frente de Rio de Janeiro. Como o membro mais jovem deste influente coletivo, Oiticica liderou as suas inovações enquanto mantinha as suas próprias explorações do espaço, da cor e da técnica, investigações que o levariam a romper os limites do enquadramento, prenunciando trabalhos posteriores e expandindo as possibilidades artísticas. da pintura para outra dimensão.

Coincidindo com esta exposição, a Lisson Gallery apresentará o raro óleo sobre tela do brasileiro Metaesquema (1958) na TEFAF de Nova York, que acontecerá online de 1 a 4 de novembro. A obra de Oiticica também é tema de grande exposição no Museu de Arte de São Paulo – MASP, até o dia 22 de novembro.

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