Carmela Gross, Daniel de Paula e Gustavo Caboco são os novos nomes confirmados para mostra coletiva que terá início em outubro
A 34ª Bienal de São Paulo, “Faz escuro mas eu canto”, acaba de lançar o site desta edição, onde é possível ter acesso a todos os detalhes sobre as mostras coletiva e individuais, à publicação educativa e a textos inéditos sobre os artistas participantes. A mostra coletiva deverá receber os visitantes entre 3 de outubro e 13 de dezembro de 2020 (mas as datas podem sofrer alterações devido à pandemia de Covid-19).
No site, estão disponíveis os detalhes das exposições (tanto da mostra coletiva quanto das individuais), sendo possível conhecer mais profundamente os artistas já anunciados, visualizar o calendário completo do ano, baixar materiais educativos e publicações relacionadas, acessar vídeos e áudios produzidos pela Fundação para esta edição e entrar em contato com outros conteúdos referenciais, como imagens de obras dos artistas convidados, trocas curatoriais e assuntos complementares.
O site permanecerá uma plataforma viva até o final do programa de mostras itinerantes, que acontece tradicionalmente no ano seguinte à cada edição da Bienal. Dessa forma, novos conteúdos serão publicados ao longo do próximo ano e meio, incluindo textos inéditos sobre os artistas que ainda não foram anunciados (cerca de ⅔ dos participantes), publicações, produtos audiovisuais e registros de ações.
“Trabalhar para que cada vez mais pessoas tenham acesso à arte contemporânea é uma das principais missões da Fundação Bienal e, num país com a escala do Brasil, os meios digitais são importantes para alcançar esse objetivo. Para nós, os sites das Bienais são ferramentas que podem complementar a experiência do visitante ao espaço expositivo: eles não a substituem, mas oferecem conteúdos adicionais e outras formas de se relacionar com as mostras. A arte é uma parte intrínseca do que significa ser humano. Agora, quando nós, enquanto sociedade, enfrentamos um desafio gigantesco, a produção cultural e simbólica é mais necessária do que nunca. E, ao menos enquanto não pudermos frequentar fisicamente as exposições, as iniciativas digitais ganham relevância como possíveis fontes de experiência estética”, afirma José Olympio da Veiga Pereira, presidente da Fundação Bienal de São Paulo.
Novos artistas
Além dos 28 nomes já divulgados, é anunciada agora a participação, na mostra coletiva, de três novos artistas que contribuíram com a publicação educativa da 34ª Bienal: Carmela Gross, Daniel de Paula e Gustavo Caboco. Além deles, Neo Muyanga, Noa Eshkol e Eleonora Fabião também contam com participações no livro, que já está disponível para download no site da exposição. A lista completa de participantes desta edição, que terá cerca de 90 artistas, deve ser divulgada entre maio e junho.
Carmela Gross (1946, São Paulo, SP),
A artista tem uma relação antiga com a Bienal e já participou de sete edições da mostra (1967, 1969, 1981, 1983, 1989, 1998 e 2002). A artista realiza trabalhos em grande escala que se inserem no espaço urbano e assinalam um olhar crítico sobre a arquitetura e a história. O conjunto de operações de cada trabalho enfatiza a relação dialética entre a obra e o espaço e entre a obra e o público. Gross já expôs extensivamente em instituições de todo mundo e participou de três edições do evento Arte Cidade (1994,
1997, 2002), na capital paulista; da 2ª Bienal Nacional de Artes Plásticas (1968), em Salvador; da 2ª Bienal de Arte Contemporânea de Moscou (2007), na Rússia; e da 5º Bienal do Mercosul (2015), em Porto Alegre.
Daniel de Paula (1987, Boston, EUA),
O artista e pesquisador brasileiro, nascido nos EUA, desenvolve uma prática não se limita aos domínios da arte, deixando-se intersectar por noções dos campos da geografia, da arquitetura e da história. As obras e proposições do artista refletem acerca da produção do espaço enquanto reprodução de dinâmicas de poder, revelando assim investigações críticas sobre as estruturas sociais, políticas e econômicas que
moldam lugares e relações. Já participou de exposições em instituições como MASP, Pinacoteca e Estação Pinacoteca, MAC USP e Centro Cultural São Paulo, entre outros.
Gustavo Caboco (1989, Curitiba, PR)
Nascido na capital paranaense e crescido num ambiente urbano, Caboco é Wapichana, assim como sua mãe que, aos 10 anos de idade, foi desterrada de seu povo. Em 2001, ambos retornaram pela primeira vez à sua aldeia Canauanim (Roraima), onde foi apresentado à sua avó e parentes. Desde então, viu se multiplicarem os vetores de religação de seu imaginário com a vida e a luta de seu povo, na mesma medida em que crescia sua consciência da violência dos processos que artificialmente afastaram a história de sua família de sua identidade. Sua obra é parte de seu esforço em tramar redes que o conectem com suas raízes e, ao mesmo tempo, produzam chamamentos que repercutem as vozes dos povos indígenas e dos entes a quem eles sabem dedicar escuta, como as plantas, as pedras e os rios. Por isso, a dicção do artista propositalmente sobrepõe o pessoal ao político, o desejo à memória e o factual ao especulativo.
Faz Escuro Mas Eu Canto
Encarado mais como uma afirmação que como um tema, o título da 34ª Bienal de São Paulo, Faz escuro mas eu canto, é um verso do poeta Thiago de Mello (1926, Barreirinha, AM) publicado em livro homônimo do autor em 1965. Em sua obra, o poeta amazonense fala de maneira clara dos problemas e das esperanças de milhões de homens e mulheres ao redor do mundo: “A esperança é universal, as desigualdades sociais são universais também (…). Estamos num momento em que o apocalipse está ganhando da utopia. Faz tempo que fiz a opção: entre o apocalipse e a utopia, eu fico com a utopia”, afirma o escritor.
Jacopo Crivelli Visconti completa: “por meio de seu título, a 34ª Bienal reconhece o estado de angústia do mundo contemporâneo enquanto realça a possibilidade de existência da arte como um gesto de resiliência, esperança e comunicação”.