Nelson Leirner, artista brasileiro conhecido por críticas incisivas ao mundo da arte, morreu aos 88

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O artista brasileiro adotou o conceitualismo da pop art e os fundiu com sátira política

Nelson Leirner, um artista brasileiro conhecido por suas críticas à produção e consumo de arte, morreu no Rio de Janeiro em 7 de março.

Imagens da cultura pop e obras canônicas da história da arte foram temas frequentes da pintura e colagens de Leirner; junções pouco prováveis como as damas da corte de Velázquez cheias de moscas ou um estádio de futebol repleto de desenhos animados do Incrível Hulk e Power Rangers. Pouco no zeitgeist estava a salvo da tradução irônica de Leirner, que foi renderizada com grande atenção à composição e cor.

Maracanã (2003), Nelson Leirner

Maracanã (2003), Nelson Leirner

Sua série de Homenagem a Fontana imita as pinturas abstratas geométricas então populares entre seus pares, substituindo a pintura e a tela por tecidos e zíperes.

Em um post no Instagram, o Museu de Arte de São Paulo ressaltou Leirner como um dos “nomes mais influentes da arte contemporânea no Brasil”.

Leirner ganhou destaque em meados dos anos 60, ao lado dos artistas brasileiros Wesley Duke Lee, Geraldo de Barros, Carlos Fajardo, José Resende e Frederico Nasser, que em 1966 formaram o influente coletivo Grupo Rex. Unidos pelo interesse em arte pop, conceitualismo e cinismo irônico em relação aos mundos da arte institucional e comercial, Leirner e seus colegas ofereceram espaços de estúdio e exibição administrados por artistas como uma alternativa às galerias – com Leirner se estabelecendo como o principal provocador do grupo.

O Porco, Nelson Leirner

O Porco, Nelson Leirner

Em 1967, ele ofereceu seus trabalhos gratuitamente em uma galeria ao público; o caos se seguiu imediatamente. Após ser convidado a participar do IV Salão de Arte Moderna de Brasília, ele propôs um porco empalhado para exibição ao lado de uma declaração preventiva ao júri que protestava contra sua exclusão. O júri, para seu aborrecimento, aceitou a peça, levando-o a reescrever sua declaração em protesto à inclusão da obra de arte. Apesar das suas críticas infalíveis – ou possivelmente, por causa delas – Leirner recebeu elogios das instituições brasileiras.

Confira a repercussão em outros veículos

Ele fez sua primeira exposição individual em 1961 e, em 1963, foi convidado a participar da Bienal de São Paulo. (Mais tarde, ele se recusou a participar das edições da Bienal de 1969 e 1971 em protesto ao regime opressivo do governo). Em 1967, Leirner participou da inovadora exposição “Nova Objetividade Brasileira” no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Em 1969, ano em que o Museu de Arte de São Paulo foi aberto ao público, ele foi tema de exposição individual, “Playgrounds”.

Leirner nasceu em São Paulo em 1932, depois se mudou para os Estados Unidos, onde viveu até o início dos anos 50. Depois de voltar ao Brasil, estudou belas artes com Juan Ponç e Samson Flexor. Em 1997, começou a lecionar na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro. Hoje, seus trabalhos integram coleções de instituições de todo o mundo, incluindo a Tate Modern e o Museu de Arte de São Paulo.

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