Exposição histórica de Leonardo da Vinci no Louvre já é realidade

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Quais surpresas podemos esperar? Os curadores respondem!

Os amantes de Leonardo da Vinci, que esperam que a exibição de grande sucesso do Louvre resolva questões sobre o paradeiro de Salvator Mundi, pintura desaparecida de US$ 450 milhões, terão que esperar. A um passo da abertura pública da exposição, ainda não se sabe se a pintura premiada estará presente ou ausente.

A maior exposição de todos os tempos dedicada a Da Vinci acontece no Louvre até fevereiro de 2020. A mostra vem sendo planejada há 10 anos e marca o aniversário de 500 anos da morte do mestre renascentista. Seus dois curadores, Vincent Delieuvin, do departamento de pinturas do Louvre, e Louis Frank, do departamento de gravuras e desenhos, reexaminaram exaustivamente a bibliografia existente da vida de Leonardo e fizeram novos progressos na vida e obra do mestre.

Embora o Louvre possua cinco pinturas e 22 desenhos de Leonardo, também mostrará cerca de 120 pinturas, esculturas, desenhos, manuscritos e objetos de arte emprestados de algumas das instituições de arte mais prestigiadas do mundo, incluindo os Museus do Vaticano e Metropolitan Museum of Art. Ao todo, a exposição apresenta cerca de 160 obras, incluindo pelo menos nove pinturas e 80 desenhos de Leonardo, além de obras de seus dois principais discípulos, Marco d’Oggiono e Giovanni Antonio Boltraffio.

Leonardo da Vinci's Salvator Mundi painting is seen at the Christie's in New York in 2017. Photo by Mohammed Elshamy/Anadolu Agency/Getty Images.

Salvator Mundi

Se a pintura mais cara do mundo, que se acredita pertencer ao príncipe herdeiro saudita Mohammad bin Salman, aparecer durante a mostra, será uma “surpresa” para os visitantes tanto quanto para os curadores, afirma Delieuvin. Salvator Mundi nunca mais foi vista publicamente desde que foi vendida em leilão, no final de 2017, por US$ 450 milhões.

“Se a pintura aparecer, é porque seu proprietário decidiu emprestá-la. Se não, é porque decidiu o contrário”, diz Delieuvin. “Ele ainda não deu a palavra final”.

A mostra certamente não depende da inclusão desse trabalho, especificamente. “A maneira como a exposição foi construída não está condicionada à presença ou ausência de qualquer pintura”, diz Delieuvin. Por causa do profundo interesse de Leonardo em ciência e tecnologia, os curadores decidiram incluir na mostra todos os refletogramas de infravermelho que mostram camadas mais profundas de tinta e, às vezes, imagens ocultas, nas telas do artista.

Em alguns casos, eles serão mostrados lado a lado de suas pinturas e, em outros, substituirão obras ausentes, como a Anunciação, das Galerias Uffizi (Florença); o retrato de Ginevra de’ Benci, da National Gallery (Washington); e a Virgem do Cravo, da Alte Pinakothek (Munique). A Dama com Arminho também não pôde ser emprestada do Museu Nacional de Cracóvia, Polônia.

Vincent Delieuvin posa ao lado de Mona Lisa,  no Louvre

Vincent Delieuvin posa ao lado de Mona Lisa, no Louvre

A Mona Lisa permanecerá visível em seu espaço permanente de exposição, no grande Salle des États do museu. A pintura mais famosa de Leonardo também se transformará em uma nova experiência de realidade virtual, no final da exposição. “Isso permitirá que as pessoas redescubram a Mona Lisa, e acho que isso dará às pessoas o desejo de subir as escadas e ver a pintura em sua sala expositiva, que acaba de ser renovada”, disse Delieuvin.

Interferência política

Um amargo impasse político amargo entre França e Itália, sobre empréstimos internacionais, causou uma breve incerteza – enquanto políticos e grupos nacionalistas da Itália tentava negar os empréstimos previamente prometidos à França.

Por fim, empréstimos importantes foram finalmente garantidos, incluindo o icônico Homem Vitruviano. Outras “obras extraordinárias” emprestadas da Itália incluem São Jerônimo no Deserto, dos Museus do Vaticano.

Detalhe de São Jerônimo no Deserto

Detalhe de São Jerônimo no Deserto

Questionado se a política nacional costuma interferir no trabalho curatorial, Louis Frank diz que surge principalmente quando um assunto capta a opinião pública tanto quanto Leonardo. “Mas vale a pena notar que, na maioria dos casos em que um empréstimo foi recusado, não foi por razões políticas”, diz Frank, acrescentando que a maioria dos empréstimos foi negociada entre museus.

No geral, os curadores dizem que estão “muito felizes” com o que conseguiram garantir para a exposição e expressaram um agradecimento especial à generosidade da rainha da Inglaterra, que emprestou cerca de 24 desenhos da Royal Collection. Apesar das discussões em curso sobre o Brexit, o Reino Unido foi o país com o maior número de empréstimos de obras para a exposição, enviando obras do Museu Britânico, da Galeria Nacional de Londres, do Courtauld e das Galerias Nacionais da Escócia, entre outras.

Revelações

A exposição é o resultado de 10 anos de pesquisa curatorial. “Quando começamos nosso trabalho, não entendíamos nada sobre Leonardo, porque a bibliografia é imensa e, acima de tudo, contraditória”, disse Frank. “Tivemos que começar tudo de novo para entender”.

Delieuvin assumiu a enorme tarefa de ler toda a bibliografia sobre Leonardo e, juntos, os curadores reexaminaram todos os documentos históricos disponíveis e fontes literárias relacionadas ao artista. Eles refizeram transcrições e traduções e realizaram novas análises laboratoriais. Os trabalhos do Louvre passaram por novas análises técnicas e três – Santa Ana, La Belle Ferronière e São João Batista – passaram por tratamentos de conservação.

“Tudo isso significa que agora temos uma imagem que não é totalmente diferente, é claro, do Leonardo que conhecemos, mas agora é construída sobre fundações limpas e sólidas, e há muitos detalhes que esclarecemos”, afirmou Frank.

Suas pesquisas, por exemplo, ofereceram uma melhor compreensão da história das duas versões da Virgem das Rochas. Até agora, acreditava-se que havia um conflito de anos sobre a pintura anterior, que faz parte da coleção do Louvre, depois de ter sido rejeitada pela Irmandade da Imaculada Conceição por ser considerada herética. “Hoje entendemos que essa era uma ideia falsa, e existem muitas destas ideias falsas na historiografia de Leonardo”, diz Frank.

As duas versões de Virgem das Rochas, ou Virgem dos Rochedos

As duas versões de Virgem das Rochas, ou Virgem dos Rochedos

O caso foi resolvido com o uso da reflectografia infravermelha, que mostra que a figura do anjo era na verdade uma adição posterior à primeira pintura, indicando que o conflito era antes financeiro, resultante da irmandade não querer pagar o complemento que os pintores queriam.

Um outro exemplo da ruptura dos curadores com as crenças tradicionais sobre o trabalho de Leonardo diz respeito à Mona Lisa e Santa Ana, que há muito se pensava serem obras tardias, datadas por volta de 1510. Um documento descoberto em 2005, no entanto, que tem sido fonte de discórdia entre historiadores da arte, mostra que ambas as obras estavam em estágios avançados em 1503. Os curadores do Louvre aceitaram essa nova cronologia, o que significa que o artista levou 15 anos para criar a Mona Lisa e Santa Ana.

“Para nós, uma das características fundamentais de Leonardo é que ele perseguiu a execução de suas obras por um período muito, muito longo, ou seja, para nós, ele não era alguém desinteressado em execução processual, para quem a pintura era algo abstrato que veio depois do trabalho conceitual”, diz Frank. “Pelo contrário, a execução foi essencial para ele. Uma vez que ele encontrou uma ideia, ele a reformulou infinitamente, e era exatamente isso que estava em seu âmago. Então, colocamos a ciência da pintura, a diversão divina, de volta ao âmago de Leonardo”.

“Leonardo da Vinci” está em exibição no Louvre até 4 de fevereiro de 2020.ep

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