“Sertão” é o tema da 36ª edição do Panorama da Arte Brasileira

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MAM reúne produção contemporânea na mostra em cartaz em São Paulo

Completando 50 anos, o Panorama da Arte Brasileira deste ano reúne trabalhos de 29 artistas e coletivos. A  36ª edição da mostra, exibida no Museu de Arte Moderna (MAM), no Parque Ibirapuera, zona sul paulistana, tem como título

O conceito é explorado a partir da etimologia da palavra que, segunda curadora, Júlia Rebouças, vai além do uso mais comum que associa o termo ao semiárido nordestino. “Essa ideia vem do meu projeto anterior a pesquisa. Sou sergipana, convivi e conheço parte dessa região que a gente trata como sinônimo de sertão, o semiárido ou interior do Nordeste”, conta sobre a origem das reflexões que levaram a construção do conceito da exposição.

“Sertão não exatamente o território, não é a região, não é o clima, não é o bioma, não é a caatinga”, afirma Júlia. O significado da palavra, de acordo com ela, é muito mais abrangente. “Esse território que se opõe ao litoral, interior, não colonizado, que não foi ainda desbravado. Essa terra que a gente ainda não alcançou”, explica.

Antônio Oba, um dos artistas do Panorama (Janine Moraes/Divulgação)

Antônio Oba, um dos artistas do Panorama (Janine Moraes/Divulgação)

A partir desse eixo, a curadora passou a buscar as produções que dialogavam com a proposta. A pesquisa envolveu visitas a cidades como Cachoeira (BA), Recife, Brasília, Florianópolis, São Paulo e a região do Cariri cearense. “Eu vou tentar identificar quais são os artistas que têm isso em sua prática”, diz Júlia. Foram selecionados artistas em início carreira e com trajetória estabelecida de diversas linguagens: pintura, escultura, fotografia, vídeo e instalação.

Do Semiárido à urbanidade

Entre os pontos em comum dos artistas reunidos na mostra, Júlia evidencia a necessidade de experimentação e a apresentação de propostas concretas. “Acho que tem muitas ideias do que possa ser uma ação que nos mova do lugar onde estamos e nos leve para outro lugar”, comenta.

Alguns trabalhos, como o de Ana Lira, falam sobre a relação da humanidade com a natureza. Com uma produção em fotografias e publicações retratando processos de construção coletiva, a artista pernambucana acompanhou o trabalho de agricultores que fazem experimentações no semiárido nordestino.

Existem, no entanto, propostas que passam por situações muito diferentes. “Muitos artistas falam da necessidade de festejar, de celebrar. Muitos deles falam de uma recusa de sistemas hegemônicos de saber ou de poder, não esperar resoluções que vem de cima, criar a caminhos a partir das condições existentes”, diz a curadora. O central, segundo ela, é o impacto real sobre o mundo. “Mais do que pensar, é também agir”, destaca.

Raquel Versieux, Quenga Coco Loco, 2016. Crédito: Eduardo Masini

Raquel Versieux, Quenga Coco Loco, 2016. Crédito: Eduardo Masini

O espaço público é outra marca que a curadora identifica em grande parte dos projetos. “Entendendo o espaço compartilhado como o lugar onde essa nova sociabilidade acontece. Tem muito da rua e da cidade na exposição”, diz.

Nessa leitura mais urbana está Raphael Escobar, que atua em contextos de vulnerabilidade social, como população em situação de rua e jovens em conflito com a lei. A partir de testagens feitas com ajuda de usuários de drogas de diversas partes da Grande São Paulo, o trabalho do artista identifica os adulterantes usados nas misturas feitas pelos traficantes nas substâncias ilícitas vendidas na metrópole. A obra explicita como os riscos dessas contaminações aumentam de acordo com a classe social e poder aquisitivo dos consumidores de drogas.

Entretenimento, cultura e política se misturam no material desenvolvido pela Rádio Yandê. Fundada em 2013, a rádio constituída somente por indígenas produz uma programação para informar os povos originários e contribuir na formação nos não-indígenas. O conteúdo difundido inclui a produção musical contemporânea de diversos povos, muitos que se expressam através do hip hop.

Dentro de um contexto semelhante, o Coletivo Fulni-ô do Cinema traz uma produção audiovisual sobre a luta do povo fulni–ô nos seus territórios no semiárido pernambucano.

Confira a lista dos artistas participantes

  • Ana Lira (Caruaru – PE, 1977. Vive no Recife)
  • Ana Pi (Belo Horizonte, 1986. Vive em Paris)
  • Ana Vaz (Brasília, 1986. Vive em Lisboa)
  • Antonio Obá (Ceilândia – DF, 1983. Vive em Brasília)
  • Coletivo Fulni-ô de Cinema (Águas Belas – PE)
  • Cristiano Lenhardt (Itaara – RS, 1974. Vive em São Lourenço da Mata – PE)
  • Dalton Paula (Brasília, 1982. Vive em Goiânia)
  • Daniel Albuquerque (Rio de Janeiro, 1983. Vive no Rio de Janeiro)
  • Desali (Contagem – MG, 1983. Vive em Belo Horizonte)
  • Gabi Bresola & Mariana Berta (Joaçaba – SC, 1992 / Peritiba- SC, 1990. Vivem em Florianópolis)
  • Gê Viana (Santa Luzia – MA, 1986. Vive em São Luís)
  • Gervane de Paula (Cuiabá, 1961. Vive em Cuiabá)
  • Lise Lobato (Belém, 1963. Vive em Belém)
  • Luciana Magno (Belém, 1987. Vive em São Paulo)
  • Mabe Bethônico (Belo Horizonte, 1966. Vive em Genebra e Belo Horizonte)
  • Mariana de Matos (Governador Valadares – MG, 1987. Vive no Recife)
  • Maxim Malhado (Ibicaraí – BA, 1967. Vive em Massarandupió – BA)
  • Maxwell Alexandre (Rio de Janeiro, 1990. Vive no Rio de Janeiro)
  • Michel Zózimo (Santa Maria – RS, 1977. Vive em Porto Alegre)
  • Paul Setúbal (Aparecida de Goiânia – GO, 1987. Vive em São Paulo)
  • Radio Yandê (Rio de Janeiro, 2013)
  • Randolpho Lamonier (Contagem – MG, 1988. Vive em Belo Horizonte)
  • Raphael Escobar (São Paulo, 1987. Vive em São Paulo)
  • Raquel Versieux (Belo Horizonte, 1984. Vive no Crato – CE)
  • Regina Parra (São Paulo, 1984. Vive em São Paulo)
  • Rosa Luz (Gama – DF, 1995. Vive em São Paulo)
  • Santídio Pereira (Curral Comprido – PI, 1996. Vive em São Paulo)
  • Vânia Medeiros (Salvador, 1984. Vive em São Paulo)
  • Vulcanica Pokaropa (Presidente Bernardes – SP, 1993. Vive em Florianópolis)

Por Daniel Mello – Repórter da Agência Brasil

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