François-Xavier Lalanne e sua esposa Claude deram vida a uma obra poética, injetando ao familiar e funcional um encanto onírico e um senso de humor extravagante

Durante anos, um gigantesco gafanhoto de latão e porcelana de Sèvres (que poderia, se necessário, funcionar como um cooler) ficava do lado de fora dos apartamentos reais do Castelo de Windsor: um presente do presidente francês Georges Pompidou ao Duque de Edimburgo, em 1972. Do outro lado do Canal, a uma hora de Paris, está a casa de seu falecido criador François-Xavier Lalanne e sua esposa Claude, repleta de criaturas extravagantes: um enorme rinoceronte que se transforma em uma escrivaninha; um repolho de bronze sobre pernas de galinha e mesas de enormes de folhas de ginkgo.

François-Xavier morreu em 2008. Agora, após a morte de Claude no início deste ano – cujas criações de jóias inspiraram estilistas como Yves Saint Laurent, Hubert de Givenchy, Karl Lagerfeld e Stella McCartney, mais de 280 itens da coleção privada do casal serão leiloados pela Sotheby’s, em Paris, nos dias 23 e 24 de outubro.

“Les Lalanne”, como carinhosamente eram conhecidos, deram vida a uma obra poética, injetando ao familiar e funcional um encanto onírico e um senso de humor primordial e caprichoso. Amados e celebrados por muitos dos principais artistas, influenciadores e colecionadores de sua geração, Les Lalanne eram parte atuante da cena artística do século 20, com seu trabalho apresentando desde capas de discos de Serge Gainsbourg até a mesa de jantar de Salvador Dalí.

A venda deve atrair os olhares internacionais, que têm se voltado às obras dos Lalanne nos últimos anos, provocando um aumento nos preços. Entre os itens à venda estão a famosa ovelha de François-Xavier em epóxi e lã, uma mesa lateral de elefante, abajures de macaco e um coelho de 6 pés em bronze. Os leiloeiros não fornecerão estimativas individuais de preço para os lotes.

Florent Jeanniard, especialista da Sotheby’s que está catalogando a venda, diz que é a primeira vez que peças da coleção pessoal do casal serão leiloadas. “Estas não são apenas obras vistas em galerias e exposições, mas peças que estavam na casa e como parte de suas vidas diárias”, disse Jeanniard ao Observer. “Como eles viviam com esses objetos, acho que podemos dizer com segurança que eles eram seus preferidos, dentre todas as suas obras”.

Os lotes – 200 deles da Les Lalanne – devem chegar a 22 milhões de euros (19,7 milhões de libras). Exposições públicas pré-leilão serão realizadas de 3 a 6 de outubro em Nova York, Hong Kong, Londres e Paris.

Obras de Les Lalanne

O coração da coleção é dedicado a obras de arte criadas por Claude e François-Xavier Lalanne que estavam em sua casa. Do monumental à miniatura, cada peça exala a concepção divertida e única do casal sobre o design.

Os destaques incluem o emblemático Grand Choupatte, um repolho em bronze com pés de frango, com versões incluídas no principal museu e coleções de arte do mundo. Entre outras peças renomadas de Claude estão o Bureau Crocodile, assim como suas mesas de folhas de ginkgo e sua visão altamente criativa de joias.

Exemplos da fusão de arte e mobiliário do casal compreende o Rhinocrétaire – escrivaninha escondida sob a forma de um rinoceronte de bronze – uma excêntrica manada de ovelhas (Moutons de Peter) e um armário de bar projetado como um muflão selvagem (Grand Mouflon de Pauline).

Constelação de artistas e amigos

Les Lalanne estavam no centro de uma constelação cultural, com inúmeros pintores, escultores, escritores, designers, arquitetos e fotógrafos entre seu círculo íntimo. Essas amizades são refletidas na coleção que apresenta obras dos amigos artistas do casal – uma visão de sua estética pessoal e de seu colecionismo.
Entre seus amigos artistas estavam Constantin Brancusi, Salvador Dalí, Man Ray, Jean Tinguely, Louis Aragon e Jasper Johns. Sua influência se estendeu até o mundo da moda, quando Claude se tornou a única artista com quem Yves Saint Laurent trabalhou junto ao longo de sua carreira.

A seleção inclui “Une Nana pour Claude”, obra dedicada a artista por Niki de Saint Phalle; uma pintura de Raysse feita por Elaine Sturtevant; e um desenho enviado por Yves Saint Laurent para Claude e François-Xavier de Marrakech em dezembro de 1969.