A pintura, descoberta em um sótão em 2014, tinha valor estimado em US$ 170 milhões
O quadro, considerado uma “obra-prima perdida” do pintor italiano Caravaggio, foi comprado dois dias antes de ser colocado sob o martelo em um leilão na França.
“Judith and Holofernes” foi encontrada no sótão de uma casa na cidade francesa de Toulouse, em 2014. Segundo a casa de leilões, a tela foi arrematada por um comprador estrangeiro.
O especialista em arte Eric Turquin – que autenticou a pintura – avaliou a obra entre 100 e 150 milhões de euros (até US$ 170 milhões), embora vários especialistas italianos tenham dúvidas sobre a tela. No entanto Turquin, principal autoridade da França em pinturas de Mestres Antigos, apostou sua reputação no trabalho. A pintura, que retrata uma cena bíblica terrível da bela viúva judia Judith decapitando um general assírio adormecido, seria leiloada em Toulouse.
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Mas antes da licitação começar, um comprador estrangeiro “próximo a um grande museu” interveio, disse Marc Labarbe, o leiloeiro local que descobriu a pintura quando lhe pediram para avaliar algumas “coisas velhas no sótão”. “O fato de a oferta vir de um colecionador próximo a um grande museu convenceu o vendedor a aceitar (a oferta)”, disse ele.
Depois da descoberta da obra no sótão, Marc Labarbe a levou para Turquin, que identificou a peça como uma obra perdida de Caravaggio – apenas a 66ª existente. A descoberta foi triunfalmente revelada pelo Ministério da Cultura da França em 2016, que proibiu a exportação durante 30 meses enquanto era examinada pelo Centro de Pesquisa e Restauração de Museus da França, e meticulosamente restaurada.
Preço mantido em segredo
Labarbe disse que não poderia revelar o nome do comprador ou o preço pago, devido a um acordo de confidencialidade. Mas ele confirmou que a pintura – datada de 1606 – deixará a França depois que uma barreira de exportação, que classificou a tela como um “tesouro nacional”, não foi renovada em novembro.
Turquin havia dito à AFP que tinha certeza de que a pintura era do gênio volátil e violento, que a criou enquanto estava fugindo de uma sentença de morte por assassinato.
“Não é apenas um Caravaggio, mas de todos os Caravaggios que são conhecidos hoje, esta é uma das grandes imagens”, ele insistiu. “A pintura está em um estado extraordinariamente bom, muito melhor do que os Caravaggios que vi em Nápoles”, acrescentou.
Mas embora os especialistas estejam unidos em saudar a qualidade do trabalho, uma minoria de especialistas – particularmente na Itália – tem suas dúvidas. Eles acreditam que é uma cópia feita pelo artista flamengo Louis Finson, que trabalhou ao lado de Caravaggio.
Turquin é inflexível de que a tela é o original de 1606, cuja existência foi notada pela primeira vez em cartas entre duques italianos e comerciantes de arte, quatro séculos atrás. Ele está mais convencido do que nunca desde que a tela foi limpa em janeiro, um processo que levou três semanas. Em cima de raios-X, a limpeza “mostrou que a pintura foi alterada muito quando foi pintada, com muito retoque. Isso prova que é um original”, disse Turquin. “Os copistas não fazem mudanças como essas, eles copiam”, acrescentou.
Uma versão menos virtuosa da cena de Finson está no Palazzo Zevallos em Nápoles. De pé em frente ao que foi chamado de “Toulouse Caravaggio”, em um vestíbulo acima de seu escritório em Paris, Turquin mostrou o traço revelador de como o artista havia mudado de ideia sobre como Judith deveria estar olhando.
“Após cinco anos de reflexão, ninguém apresentou um contra-argumento”, disse o especialista. Turquin disse que a pintura marcou um ponto de virada no desenvolvimento de Caravaggio como artista. O pintor havia criado uma primeira tela sobre o tema, muito mais formal, em 1598. “Judith Beheading Holofernes” se encontra no Palazzo Barberini, em Roma.
Condenado à morte
Mas, em 1606, a vida de Caravaggio mudou drasticamente, quando ele estava em fuga por assassinato. Ele fugiu para Nápoles depois de ter sido condenado à morte por esfaquear um homem em uma briga de rua em Roma. “Ele estava pintando mais rápido, mais espontaneamente e de forma mais impressionante”, disse Turquin, acrescentando que a pintura reflete sua visão mais sombria da vida.
Outros especialistas especularam que Finson poderia ter acrescentado seus próprios retoques à tela, depois que Caravaggio partiu de repente para Malta em 1607, onde ele esperava estar mais seguro de seus inimigos. A família proprietária da pintura – que não foi identificada – acredita que ela tenha sido trazida para a França por um de seus ancestrais, um oficial do exército de Napoleão.