Entrando no clima do verão europeu, o museu Guggenheim Bilbao recebe uma seleção de paisagens marinhas, criadas ao longo de trinta anos, por Gerhard Richter
Sob curadoria de Lucia Agirre, as obras de “Marinas” se apresentam em diferentes estilos e formatos, por vezes a partir de parâmetros abstratos, com as linhas do mar e do horizonte quase fundindo-se, e outras se aproximando do realismo fotográfico, matizando com maestria as luzes ambíguas.
Na maioria das telas, céu adquire um papel essencial, nebuloso ou plácido: são raras as vezes em que Richter dá mais espaço à água. O que esses trabalhos têm em comum é o seu magnetismo: suas perspectivas, sua iluminação, seu tratamento pessoal de um tema quase eterno capturam qualquer espectador.
Não estamos lidando com meras representações da natureza, por mais bem sucedida que seja a sua técnica, mas com obras que desafiam a nossa percepção por causa de sua proximidade com a fotografia, com o qual, em uma contemplação distante (e às vezes nem tanto) poderiam nos confundir. Ao buscar este realismo acentuado, o artista usou pigmentos muito diluídos com os quais conseguiu superfícies lisas; outras vezes, se aproximou aos instantâneos por meio de procedimentos menos evidentes e também muito próprios, como o desfoque.Os mares de Richter, podem pensar alguns, são mais atraentes do que os reais: essa também é uma sensação buscada pelo artista, quando embeleza as paisagens fundindo céu e do mar, até que resultem inseparáveis e irreconhecíveis.
Esta exposição é a primeira a apresentar uma ampla variedade dessas obras, nas quais o artista conta tanto com fontes tradicionais – como as paisagens melancólicas e mal-humoradas do pintor romântico alemão Caspar David Friedrich – quanto com fotos populares tiradas durante as férias, a fim de apresentar uma reflexão sobre a natureza e percepção visual.Através dessas pinturas e desenhos, Richter nos força a encarar o problema da representação, fundindo a superfície pintada e o registro fotográfico em um só. Para fazer isso, ele aplicou tinta altamente diluída, alcançando a superfície lisa das fotografias e, como em muitas fotos instantâneas, desfocando a imagem para tornar mais difícil distinguir se é uma fotografia ou uma pintura. Em algumas dessas obras, o mar e o céu de diferentes fontes se fundem, tornando-se quase intercambiáveis, deixando à nossa percepção identificar qual é qual.
“Gerhard RIchter: Marinas” ocupa o Guggenheim Bilbao até 9 de setembro de 2019