Até domingo, apenas o MAR já havia contabilizado cerca de 42 doações
Não é incomum na SP-Arte, maior feira de arte da América Latina, que algumas das obras compradas por ali acabem em acervos de museus e instituições culturais pelo mundo. Mas, em 2019, o número foi surpreendente. Se no ano anterior o total de peças doadas chegava a 20, este ano, o Museu de Arte do Rio, o MAR, sozinho, mais do que dobrou esse número.
Até as 18 horas do domingo, 7, último dos cinco dias de evento, o diretor do museu, Paulo Herkenhoff, já havia contabilizado 42 doações para a sua instituição. Minutos depois, o estande da galeria paulista Verve, que já havia negociado três doações para o museu, estava comemorando a quarta.
O interesse principal do museu era em artistas jovens, com o trabalho ainda em ascensão. “As galerias entendem que o MAR é um museu-farol, que está investigando a ponta de lança”, acredita Herkenhoff, que ficou interessado especialmente nas discussões de sexualidade e gênero de alguns artistas da Verve, como Francisco Hurtz, com sua arte queer, e a transexual Élle de Bernardini.
O interesse do MAR em jovens artistas fez com que galerias como a OMA, localizada no ABC Paulista, iniciassem uma corrida para conseguir doadores que pudessem adquirir as obras e repassá-las ao museu. “Para os jovens artistas, o passo mais difícil é ingressar no acervo de um museu, que geralmente só está interessado nos astros”, explica o galerista Thomaz Pacheco. Só na OMA, cinco dos sete artistas levados para a SP-Arte tiveram obras doadas ao MAR. Duas de Bruno Novaes, uma de Thiago Toes, uma de Giovani Caramello, uma de Larte Ramos e uma de Andrey Rossi.
Para o Museu de Arte Moderna de São Paulo, o MAM, o resultado da feira também foi animador. O museu recebeu 11 doações. Foram quatro obras de Elizabeth Jobim, duas fotografias de Claudia Andujar, uma obra de Laura Vinci, uma de Rosangela Rennó, uma fotografia de Caio Reisewitz e ainda obras em vídeo de Letícia Parente e Regina Vater. “Alguns colecionadores querem perpetuar a obra. Quando dividida com o público, a obra circula muito mais que numa coleção privada”, analisa a diretora do MAM-SP, Paula Azevedo.
A Pinacoteca do Estado, também em São Paulo, recebeu pelo menos seis doações, de galerias brasileiras como Milan e Mendes Wood.
Além disso, o evento teve a presença de grandes colecionadores do mundo da arte, como o argentino Eduardo Constantini, proprietário do quadro Abaporu, de Tarsila do Amaral, cedido por ele ao Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires, o Malba. Para a instituição portenha, inclusive, ele adquiriu obras da brasileira Rivane Neuenschwander, na galeria Fortes D’Aloia e Gabriel, e quase todas as obras do peruano Fernando Bryce que estavam disponíveis no estande da galeria espanhola Espaivisor.
Por falar em Abaporu, no momento em que o quadro está no Brasil para a exposição Tarsila Popular, no Masp, havia poucas obras da pintora disponíveis na SP-Arte. A galeria Almeida e Dale levou a pintura Terra (1943), que não havia sido vendida, e ainda um estudo de Abaporu, adquirido por um colecionador do sul do País.
“Na SP-Arte e em qualquer outra feira, você tem compradores privados e também institucionais”, afirma a diretora da feira, Fernanda Feitosa. O museu Tate, de Londres, era outro que estava no evento, onde adquiriu uma obra da paulista Analivia Cordeiro na galeria chilena Aninat. “Aqui é uma grande plataforma para grandes reverberações”, acredita Feitosa. “Inserção profissional é uma e a consagração institucional ou comercial é outra.”
Confira algumas das doações:
MELVIN EDWARDS
(Alexander Gray Associates)
A obra “Palmares”, 1988, foi doada pelo próprio artista e pela galeria norte-americana para o Masp.
SOLANGE PESSOA
(Mendes Wood DM)
As duas grandes telas Sem título, de 2012, foram doadas pelo Iguatemi para a Pinacoteca.
SONIA ANDRADE
(Galeria Athena)
O vídeo “A morte do horror”, 1981, que nunca tinha sido mostrado no Brasil, foi doado por Renata di Paula para o acervo da Pinacoteca.
CLAUDIA ANDUJAR
(Vermelho)
Duas importantes fotografias, “A jovem Susi Korihana thëri em um igarapê – Catrimani, Roraima”, da série “A floresta” (1972/1974) e “Maloca rodeada de folhas de batata-doce, Catrimani”, da série “A casa” (1974/1976), foram doadas ao MAM por Renata di Paula. Parte do valor arrecadado com as vendas das obras de Andujar é revertido para a causa da etnia Yanomami.
JOSÉ BENTO
(Galeria Millan)
A escultura “Feijão carioca”, de 2018, foi doada para a Pinacoteca por Cleusa Garfinkel.
LENORA DE BARROS
(Anita Schwartz Galeria de Arte)
A obra “Poema”, de 1979, doada para o MAM por Ana Eliza Setubal.
ÉLLE DE BERNARDINI
(Verve Galeria)
A obra “DNA”, de 2018, foi doada para o MAR por Marcelo Secaf.
GIOVANI CARAMELLO
(OMA Galeria)
A escultura “Nikutai”, de 2019, foi doada para o MAR pelo grupo Ana Volpe, Leivi Abuleac, Luciana e Michel Farah, Flávia e Rodrigo Terpins.
LETÍCIA PARENTE
(Galeria Jaqueline Martins)
O vídeo “Eu armário de mim”, de 1975, foi doado por Cleusa Garfinkel ao MAM-SP.
RANDOLPHO LAMONIER
(Periscópio Arte Contemporânea)
Uma obra inédita da série “Profecias”, com a frase “Em 2040, legalizamos o amor e outras drogas menos intensas” foi doada para o acervo da Pinacoteca por Esther e Ricardo Constantino.
JAIME LAURIANO
(Galeria Leme/AD)
A instalação “Brinquedo de furar moletom”, de 2018, foi doada por Cleusa Garfinkel para o acervo do MAR. Outra versão do mesmo trabalho foi apresentada no MAC Niterói ano passado.
ELIZABETH JOBIM
(Lurixs: Arte Contemporânea)
Uma série de pequenas pinturas de Elizabeth Jobim, do ano passado, foram doadas por José Luiz Setúbal para o MAM.
ADRIANNA EU
(Luciana Caravello)
O trabalho inédito “As amarras”, foi doado para o MAR por Cleusa Garfinkel.