Olafur Eliasson | Artista do Mês | Outubro de 2018 

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A arte de Olafur Eliasson é orientada pelos seus interesses em percepção, movimento, experiência e sentimentos, em um esforço de tornar a arte relevante para as questões sociais  

Para este artista dinamarquês, a arte é um meio crucial de transformar o pensamento em ação. Suas obras abrangem escultura, pintura, fotografia, cinema e instalação. Não se limitando aos limites do museu e da galeria, sua prática envolve a esfera pública mais ampla por meio de projetos arquitetônicos, intervenções no espaço cívico, educação artística, formulação de políticas e questões de sustentabilidade e mudança climática.  

Olafur participou de vários projetos no espaço público, incluindo a intervenção Green River, realizada em várias cidades entre 1998 e 2001; o Serpentine Gallery Pavilion 2007, em Londres, pavilhão temporário projetado com o arquiteto norueguês Kjetil Trædal Thorsen; e The New York City Waterfalls, encomendado pelo Public Art Fund em 2008.  

Olafur representou a Dinamarca na 50ª Bienal de Veneza em 2003 e mais tarde, no mesmo ano, instalou o The Weather Project no Turbine Hall da Tate Modern, em Londres. Também foi professor na Universidade de Artes de Berlim de 2009 a 2014 e é professor adjunto da Alle School of Fine Arts and Design em Addis Ababa desde 2014. 

Infância 

Olafur Eliasson nasceu em Copenhague, Dinamarca, em 1967, um ano depois que seus pais de 21 anos, Elías Hjörleifsson e Ingibjörg Olafsdottir, imigraram da Islândia para a cidade. Sua mãe, que era de uma vila de pescadores islandesa do século 11, encontrou trabalho como costureira, enquanto seu pai, que um artista amador, tornou-se cozinheiro em um barco de pesca. A família de seu pai era de Reykjavík, capital da Islândia, onde faziam parte de uma pequena comunidade artística. 

A avó de Eliasson era fotógrafa e seu avô, que abandonou sua família quando Elías ainda era jovem, foi editor de literatura de vanguarda. Os pais de Eliasson, jovens e inexperientes, se divorciaram quando ele tinha quatro anos. Elías, seguindo os passos de seu pai, voltou para a Islândia, deixando um jovem Olafur sem pai durante grande parte de sua infância e adolescência. Durante suas raras viagens para visitar o pai, Eliasson começou a fazer desenhos como uma forma de impressioná-lo. Quando tinha 14 anos, conseguia desenhar todos os ossos do corpo humano e, aos 15 anos, fez sua primeira exposição de arte – exibindo várias pinturas de paisagens em um espaço de arte alternativa na Dinamarca. 

Desde a adolescência, Eliasson demonstrou aptidão natural para a arte, mas não tinha aspirações reais para se tornar um artista. Em vez disso, passou a maior parte do seu tempo dançando break, depois de descobrir o estilo em um programa de televisão americana. “Nós vivíamos no campo na época, em uma pequena fazenda, e lembro que durante meses e meses eu apenas me movi como um robô. No começo eu era muito ruim nisso”, lembra Eliasson. “Deve ter sido engraçado me ver dançando entre as vacas e cavalos”. Depois de formar o “Harlem Gun Crew” com dois amigos, o grupo, vestido de elastano prateado feito pela mãe de Eliasson, se apresentou em clubes em Copenhague e competiu internacionalmente, ganhando o campeonato de breakdancing escandinavo por duas vezes. 

Five fold sphere projection lamp, 2004

Five fold sphere projection lamp, 2004

Primeiros passos 

Mas 1987 se tornaria um ponto de virada na vida de Eliasson. Durante o ano tumultuado, seu avô se matou e seu pai foi hospitalizado por alcoolismo, exigindo que Olafur se mudasse para a Islândia a fim de cuidar de sua meia irmã de dois anos de idade, Anna Viktoria.  

Por mero aborrecimento, Eliasson decidiu candidatar-se à escola de arte e foi prontamente aceito na prestigiada Academia Real Dinamarquesa de Arte. “Eu estaria mentindo se dissesse que não havia um elemento de escapismo em meu interesse pela arte quando adolescente”, disse ele.  

“Não fazer sentido parecia mais atraente para mim do que fazer sentido. Ingressar na escola de arte era uma maneira adorável de me desconectar. Depois que cheguei lá, percebi que arte é conexão. Em vez de sair do mundo, eu estava caminhando direto para o seu centro. Foi uma revelação para mim. Eu pensei que era apenas sobre ser um bom artista para que meu pai gostasse de mim. Mas era mais sobre modelar o mundo”. 

Essa noção de arte como um meio de transformar o pensamento em ação lançaria as bases para a eventual incursão de Eliasson na Prática Social, um meio de arte focado no engajamento através da interação humana e do discurso social. 

Durante seu tempo na academia de arte, Eliasson recebeu uma verba para viagem e, em 1990, mudou-se para o Brooklyn, em Nova York, onde trabalhou por um período como assistente de estúdio do pintor minimalista Christian Eckart. Durante esse tempo ele também se tornou um leitor voraz e mergulhou nas teorias filosóficas e científicas. Ele ficou especialmente intrigado com a ciência natural e a filosofia fenomenológica e sua ênfase na experiência individual da realidade. Como uma pessoa interpreta a realidade se tornaria um nicho consistente para o trabalho de Eliasson. 

Your body of work, 2011

Amadurecimento do trabalho 

Logo após a graduação em Arte, em 1995, as esculturas efêmeras de Eliasson, que articulavam de forma pungente o fenômeno natural, estavam sendo exibidas em galerias e museus ao redor do mundo. Ao mesmo tempo em que encontrava sucesso internacional, Eliasson também se reconectou com o pai, que se recuperara de sua doença. Elías às vezes até cozinhava para as aberturas das galerias de seu filho, e essa relação continuou até a morte de Elías, em 2002, de fibrose pulmonar. 

Em 1995, o artista fundou o Studio Olafur Eliasson em Berlim, com ênfase na colaboração. Fundado como um “laboratório de pesquisa espacial”, ele se tornaria um espaço para se envolver com arquitetos, engenheiros, artesãos e assistentes para conceber e construir projetos, instalações e esculturas de grande escala que incorporassem os interesses de Eliasson em percepção, movimento, experiência, e sentimentos de si dentro dos mundos natural e artificial. 

Em 1996 Eliasson começou a trabalhar com o especialista em arquitetura e geometria Einar Thorsteinn para criar peças como 8900054, uma cúpula de aço inoxidável de 30 pés de largura e sete pés de altura que parecia estar crescendo diretamente do solo. A peça fez com que os espectadores refletissem sobre coisas que estão em constante desenvolvimento, bem abaixo das superfícies comuns. 

No ano seguinte, Eliasson foi convidado a contribuir para o pavilhão dinamarquês na Bienal de São Paulo, onde conheceu a arte historiadora e curadora Marianne Krogh Jensen. Os dois se conectaram com um desejo altruísta de ajudar os menos afortunados. Depois de se casar em 2003, eles adotaram duas crianças da Etiópia – um filho em 2003 e uma filha em 2006. 

The listening dimension (orbit 1)

The listening dimension (orbit 1)

A partir dos anos 2000 e com a ajuda de seus inovadores colaboradores de estúdio, Eliasson começou a pensar em sua arte socialmente engajada como um meio de afetar a mudança em escala global. De 2009 a 2014, ele transmitiu essas filosofias como professor da Berlin University of the Arts. Em 2012, ele criou Little Suns, lâmpadas solares portáteis, que permitem que comunidades carentes, sem acesso à eletricidade, possam enxergar no escuro. Ele também usou a receita da venda de sua arte para estabelecer, junto com sua esposa, a 121Ethiopia, fundação que financia orfanatos africanos. 

Artista global preocupado com o bem-estar do mundo, hoje Eliasson viaja pelo mundo discutindo como a arte pode ter um impacto positivo no futuro da humanidade. E enquanto a arte de Eliasson o leva por todo o mundo, ele muitas vezes leva sua família junto em suas viagens, determinado a não cometer os mesmos erros do seu pai e avô. 

Em 2014, junto com o arquiteto Sebastian Behmann, Eliasson estabeleceu um contraponto arquitetônico para o Studio Olafur Eliasson, chamado Studio Other Spaces, que se concentra em projetos de construção interdisciplinares e experimentais e obras em espaços públicos. 

Hoje, Eliasson viaja entre Copenhague, onde sua família reside, e seus estúdios em Berlim. Com mais de 80 funcionários, o estúdio agora funciona mais como um laboratório, onde a experimentação e exploração em muitas áreas, incluindo ciência, arquitetura, geometria, espaço, ambiente e fenômenos naturais, se combinam para informar a criação de arte participativa para indivíduos, instituições e comunidades. 

Legado 

Ao se esforçar para tornar a arte preocupada com as questões da sociedade em geral, a prática artística de Eliasson, juntamente com outros artistas socialmente engajados, como Ai Weiwei, Thomas Hirschhorn e Theaster Gates, ajudou a formar o movimento de Prática Social. Como os primeiros artistas da Estética Relacional, essas obras tomam as relações humanas e o discurso social como ponto de partida. No entanto, ao contrário da geração um pouco mais adiantada, em vez de produzir trabalho para instituições de arte, esses artistas visam gerar mudança social por meio da colaboração e da criação de arte participativa fora do sistema de galerias. 

Reimaginando o papel da arte dentro de uma sociedade global, Eliasson utiliza sua arte para causas que antes eram o domínio de ativistas e ambientalistas. Como outros artistas da Prática Social, Eliasson agora exige que a arte tenha uma consciência social. “Hoje em dia, a arte tem um grande potencial para mudar o mundo e melhorar a vida das pessoas”, explica ele. “Em parte porque pode nutrir um grau de confiança… E isso pode trazer não apenas o potencial de sentir, mas também de agir”.

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