A mostra acontece pouco mais de um ano depois de o museu Metropolitan, também em Nova York, exibir uma retrospectiva de Pape
A Hauser & Wirth da 69th Street sediará, até 20 de outubro, a primeira exposição individual das obras da artista brasileira Lygia Pape (1927–2004) em sua galeria, desde que anunciou a representação mundial do Projeto Lygia Pape em 2016.
“Pape explorou um território rico através da escultura, desenho, gravura, filmagem e instalação, consolidando sua reputação como uma das artistas brasileiras mais significativas de sua geração”, anunciou a galeria. “Esta exposição revela a visão singular da artista, explorando sua abordagem profunda e muitas vezes lúdica da experiência física e material da arte, elucidando por fim uma compreensão profundamente humana e ressignificação única de geometria e abstração”.
Experimentação ao invés de observação
Lygia Pape (1927 – 2004), membro fundadora do movimento neo-concreto do Brasil, valorizava a arte que priorizava o espectador e sua experiência sensorial. Ao entrar na exposição, os visitantes encontram os Amazoninos (1989 – 92), grandes esculturas de ferro sobre as paredes, cujos nomes, cores e formas derivam de uma vista aérea da floresta amazônica; esses trabalhos sintetizam as explorações contínuas de espaço, volume, cor e forma de Pape. ‘Amazoninos Vermelho’ (1989/2003) e a peça em cinco partes ‘Amazonino Vermelho e Preto’ (1989/2003), parecem brotar das paredes, eliminando o peso de sua composição industrial e aparecendo ao mesmo tempo geométricas e orgânicas.
Uma das obras mais emblemáticas de Pape, “Ttéia 1A” (1978/2018), ocupa um espaço adicional no piso térreo. A sublime instalação em fio de prata faz parte da icônica série Ttéia, concebida pela primeira vez em 1978. A palavra “Ttéia”, que Pape criou, é uma junção de “teia” e “teteia”, palavra coloquial que designa uma pessoa ou coisa graciosa e delicada. Instalados em um canto da galeria, os grupos de fios se cruzam e se entrelaçam, percorrendo o espaço para criar linhas fantasmas através das paredes.
Nessa série etérea, Pape conseguiu delinear a profundidade e o volume da estrutura triangular para explorar e aumentar a consciência das relações espaciais, provocando uma resposta háptica tanto ao objeto quanto à sua sombra. Testemunhando o significado das Ttéias, Pape revisitou a série em 2003, um ano antes de morrer, e produziu um conjunto de esculturas intimamente escalonadas compostas de cobre banhado a ouro. Pape realizou dez variações exclusivas dessas obras raramente exibidas em Ttéia, nove das quais estão nesta exposição.
O 2º andar da exposição apresenta duas importantes obras de arte – Jogo de Tênis (2001) e uma série de colagens colaborativas produzidas com o artista concreto Ivan Serpa durante a década de 1970 – que marcam a crescente ênfase de Pape em projetos participativos, colagem e instalações de vídeo.
A exposição termina no 3º andar com os primeiros geométricos Tecelares, gravuras em xilogravura dos anos 1950 que marcam sua transição do movimento concreto para neoconcreto, do qual ela se tornaria um membro fundador em 1959. Os Tecelares são uma linhagem direta para sua posterior série Ttéia; estes trabalhos em papel compreendem composições complexas que evocam uma sensação de materialidade carregada. A aguda sensibilidade de Pape à técnica e ao material nesses trabalhos permitiu que ela acreditasse que era uma “melhor apresentação da ideia e da riqueza inventiva”.
Roda dos Prazeres
Além das obras, a Hauser & Wirth também promoverá a icônica obra participativa de Pape “Roda dos Prazeres” (1967) no sábado, 15 de setembro, às 15h, no telhado da galeria da 22th Street. A instalação é composta por um círculo de vasos cheios de líquidos brilhantemente coloridos. Incentivando um envolvimento sensorial com a instalação, Pape forneceu aos espectadores pequenos conta-gotas que podem ser usados para provar as soluções coloridas.
A experiência provoca sensações de prazer e também de insatisfação; os líquidos sem rótulo variam de sabor agradável a desagradável. “Desta forma”, escreveu Pape sobre a instalação em 1980, “criou-se uma ambivalência dos sentidos: o olho viu uma coisa e ficou encantado, mas a língua poderia rejeitá-lo. Ou poderia reforçar o que o olho já havia devorado, não poderia?”.