A Christie’s vai testar esta aceitação em um leilão, com a primeira obra de arte produzida por AI
A Christie’s New York fará história, quando se tornar a primeira casa de leilões a vender uma obra de arte feita por inteligência artificial. A impressão em tela, produto de um algoritmo desenvolvido pelo coletivo de arte francês Obvious, será incluída no leilão de impressões e múltiplos da casa, em outubro.
Hugo Caselles-Dupré, membro do coletivo parisiense, disse à Artnet News que eles estão “interessados na abordagem filosófica por trás disso”. “Um algoritmo pode ser criativo? Se assim for, esse algoritmo é o mais próximo da criatividade da mente humana”, complementa.
O trabalho foi criado usando um modelo chamado Generative Adversarial Network. Primeiro, os artistas alimentaram sistema com um conjunto de dados de 15.000 retratos feitos entre os séculos 14 e 20. Em seguida, criaram novos trabalhos como treinamento, até que fosse capaz de enganar um teste projetado para distinguir se uma imagem foi feita por um humano ou por máquina.O trabalho resultante, intitulado Retrato de Edmond de Belamy, retrata um homem de casaco escuro e colarinho branco, com características faciais indecifráveis. A peça única, uma impressão em tela emoldurada em dourado, está atualmente em exibição no showroom da Christie’s em Londres, com estimativa de preço entre US $ 7 e US$ 10 mil. O coletivo diz que usará os recursos da venda para treinar ainda mais seu algoritmo, financiar a capacidade computacional necessária para realizar tais trabalhos e experimentar a modelagem 3D.
A venda pela Christie´s é uma importante validação no reino da arte da IA. Embora existam muitos dos chamados “codificadores criativos”, que usam tecnologias semelhantes para melhorar a experiência na web, poucos são considerados artistas contemporâneos. Os membros do Obvious se vêem como artistas conceituais, cujo objetivo principal é democratizar as Generative Adversarial Networks e legitimar a arte produzida pela IA.
“Queríamos propor essa nova abordagem para um mercado mais tradicional, ao invés da área de tecnologia”, disse Caselles-Dupré. “No começo, foi difícil ser entendido pelo mercado de arte tradicional, porque eles estavam nos olhando assim: ‘Quem são esses caras? O que é essa nova coisa estranha? Mas quanto mais explicamos o que estamos fazendo, o que queremos compartilhar e o que queremos dizer, mais o mundo da arte está prestando atenção ao nosso trabalho”.
Após a oferta da obra pela Christie´s, o Obvious planeja trabalhar com galerias para expandir o movimento. “Nós realmente acreditamos que a IA pode ser uma nova ferramenta para a arte”, disse Caselles-Dupré. “Em 1850, quando a câmera fotográfica apareceu, ela foi usada apenas por engenheiros altamente qualificados e, portanto, não foi considerada por seu potencial artístico. Achamos que estamos na mesma situação, porque as pessoas nos veem como engenheiros, mas realmente achamos que esse tipo de tecnologia será usado cada vez mais na arte”.
O coletivo começou uma conversa com a Christie’s após um simpósio em Londres sobre as implicações do blockchain para o mundo da arte. “A Christie’s permanece sintonizada com as mudanças no mercado de arte e em como a tecnologia pode impactar na criação e no consumo de arte”, disse o chefe de impressão e múltiplos da casa de leilões, Richard Lloyd, em um comunicado. “A IA já foi incorporada como ferramenta por artistas contemporâneos e, à medida que esta tecnologia se desenvolve, estamos entusiasmados em participar dessas conversas contínuas”.
Edmond de Belamy é um dos 11 retratos da família fictícia Belamy, batizada por Ian Goodfellow, o pesquisador de IA que inventou o método Generative Adversarial Network em 2014. (uma brincadeira com a expressão ‘bel ami’, em francês). Um outro retrato da família fictícia, Le Comte de Belamy, foi vendido para o colecionador parisiense Nicolas Laugero-Lassere no início deste ano.