Louvre diz “não” para o turnê da Mona Lisa

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Ministra Françoise Nyssen propôs emprestar a obra-prima como forma de combater a “segregação cultural”

Françoise Nyssen, ministra da Cultura da França, foi manchete quando sugeriu que o Louvre enviasse sua pintura mais conhecida – a Mona Lisa, de Leonardo da Vinci – a uma grande turnê. O museu, no entanto, polidamente rejeitou a proposta. A pintura não está indo a lugar nenhum, afirmou; nem mesmo ao andar de baixo, para a grande exposição dedicada a Leonardo, planejada para o próximo ano, na qual Salvator Mundi (vendida em novembro por US$ 450 milhões) será a estrela convidada.

Nyssen discutiu pela primeira vez a ideia desta turnê em seu encontro de Ano Novo com a mídia em 23 de janeiro. O prefeito de Lens rapidamente declarou que ficaria honrado em receber La Gioconda em sua pequena cidade do norte, onde o Louvre tem um satélite.

No dia 1º de março, Nyssen confirmou que gostaria que a pintura viajasse como forma de combater a “segregação cultural”. Ela então conheceu o diretor do Louvre, Jean-Luc Martinez. Segundo fontes do museu, Martinez informou que a Mona Lisa é uma das obras que não podem mais ser movidas por causa de sua fragilidade. “Fazer isso pode causar danos irreversíveis”, disse ele à ministra.

Obra-prima em trânsito

A última vez que a pintura viajou foi para uma turnê no Japão em 1974. Doze anos antes, ela deixou o Louvre para uma mostra em Washington e Nova York, a pedido de Charles de Gaulle, que queria agradar o presidente John F. Kennedy. Mas desde 2005, o trabalho está pendurado em um muro de concreto dentro de uma caixa selada e com temperatura controlada, atrás de vidros à prova de balas, no Louvre. Especialistas dizem que seria impossível construir um cofre semelhante que pudesse viajar com a pintura.

Além de uma rachadura no lado superior do painel de álamo, um exame minucioso realizado em 2006 destacou o risco de “degradação da camada de tinta por meio de repetidas expansões e contrações” do painel, o que ocorreria com mudanças de temperatura. Os cientistas temem que o rachado possa levar à perda de camadas de tinta no rosto da Mona Lisa.

A cada ano, a caixa é aberta para um ritual de pesquisa em frente ao diretor, equipe e estudiosos (a lista de espera para participar é longa). Vincent Pomarède, que liderou o departamento de pinturas do Louvre de 2003 a 2014, disse: “Todos os anos, notamos que a rachadura está ligeiramente aumentando, antes de voltar ao normal quando o painel é colocado de volta em sua caixa. Então, viajar está realmente fora de questão”.

Os curadores temem que emprestar o trabalho para Lens possa levar a pedidos de outras cidades da França e do exterior. Isso, por sua vez, abriria a porta para empréstimos de outros tesouros, não menos frágeis. Muitos argumentam ainda que experimentar a pintura com grandes multidões se esforçando para obter um vislumbre dela é o pior caminho a ser apresentado ao Renascimento italiano. “O Louvre já é uma vítima da Mona Lisa”, disse o ex-ministro da Cultura da França, Jean-Jacques Aillagon, ao The Art Newspaper. “É absolutamente absurdo incentivar esse tipo de consumo cultural”.

O ministério da cultura inicialmente afirmou que o Louvre “não se opunha à ideia”. Agora diz que a ideia “ainda está sendo considerada” e que “um exame técnico começou” (embora a equipe do museu afirma não ter conhecimento sobre isso).

Via The Art Newspaper

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