Muito além dos acervos, alguns dos novos museus ao redor do mundo investem na ousadia e gigantismo de seus edifícios que, por si só, também valem a visita
Publicado originalmente no site da SP-Arte
Durante séculos, as grandes capitais europeias mantiveram a hegemonia das sedes dos grandes museus mundiais. Ainda hoje, os acervos mais importantes e as instituições mais visitadas se dividem entre Europa e Estados Unidos, como os tradicionalíssimos Louvre, Hermitage, British, Metropolitan e Prado. Mas se depender da ousadia e gigantismo dos novatos listados abaixo, uma nova ordem mundial pode estar prestes a começar. África, Ásia, Oriente Médio e América Latina já sediam alguns dos museus mais espetaculares da era contemporânea. Resta saber se a grandiosidade arquitetônica de suas construções não ofusca o lugar de destaque do acervo.
Veja a lista:
Louvre de Abu Dhabi – Emirados Árabes
Muitos franceses torceram o nariz ao saber que o seu maior e mais tradicional museu teria uma filial no mundo árabe. Caçula entre os supermuseus, o Louvre de Abu Dhabi foi projetado pelo arquiteto Jean Nouvel. O projeto megalomaníaco, bem ao estilo dos Emirados Árabes, é inspirado nas medinas.
A inauguração do museu ganhou uma conotação política e até o presidente francês, Emannuel Macron, compareceu. As críticas foram rebatidas com a proposta de ser um “museu universal”, onde diferentes culturas coexistem.
A obra reúne um conjunto de 55 edifícios brancos. Os visitantes podem caminhar por espaços com vista para o mar ou sob uma cúpula de 180 metros de diâmetro, composta por 7.850 estrelas de metal que filtram os raios de sol, criando o que o arquiteto chama de uma “chuva de luz”.
Para compor o acervo, o Louvre contou com a colaboração de 13 instituições francesas. O grande destaque é a tela “La Belle Ferroniére”, de Leonardo da Vinci, emprestada do irmão mais velho, o Louvre de Paris.
Uma interferência religiosa que maculasse o caráter laico do museu era uma das preocupações iniciais, mas o os curadores garantem que não. Em uma mesma sala é possível encontrar um Alcorão Azul do século IX, uma Torá iemenita do século XVI e uma Bíblia gótica. O acervo também inclui imagens com nudez, o que contradiz especulações de que elas não seriam aceitas.
Dongdaemun Design Plaza – Coréia do Sul
Se alguém chegar desavisado ao Dongdaemun History Hall é bem capaz de achar que viajou no tempo e foi parar num futuro longínquo. Projetado pela arquiteta iraquiana-britânica Zaha Dadid, esta construção que fica no centro de Seul, na Coréia do Sul, vai além do que qualquer filme futurista de ficção científica imaginou.
Inaugurado em 2004, o complexo reúne no mesmo local partes da antiga muralha de Seul, o Dongdaemun History Hall, o Memorial do Esporte, uma galeria de design e um parque. Com funcionamento de 24 horas, são 83 mil metros quadrados de área total onde antes havia um estádio de baseball e um de futebol.
Mesmo em uma capital repleta de arranha-céus como Seul, onde ousadias arquitetônicas são encontradas a cada esquina, o Dongdaemun atrai os olhares e os flashes das câmeras. Ele foi construído em uma tradicional região de comércio coreana e logo transformou o local em ponto turístico.
O prédio é todo coberto por placas de alumínio. Durante a noite, um sistema de LED ilumina por baixo destas chapas, criando um efeito de luz que está sempre mudando de cor. Além disso, a luz dos prédios e dos carros ao redor da construção refletem nas chapas. A cada piscar de olhos o Dongdaemun estará de um jeito – em especial durante a noite.
Museu Nacional do Qatar – Qatar
Ainda em construção e com inauguração prevista para o ano que vem, o National Museum of Qatar é mais um projeto do arquiteto francês Jean Nouvel. As formas criadas para alimentar a estrutura são inspiradas nas pétalas da rosa do deserto, nome dado a uma formação mineral encontrada em regiões desérticas. O prédio está sendo construído no local onde ainda está de pé o histórico palácio do sheik Abdullah, que será preservado pelo museu.
A previsão é que a obra seja concluída no ano que vem. Ao todo, serão 40 mil metros quadrados dedicados a contar a história e as heranças culturais do Qatar. Os discos que formam a construção são projetados para melhorar a ventilação e proteger os visitantes do calor do deserto.
Museu do Amanhã – Brasil
Se a paisagem da Baía da Guanabara já é de encher os olhos por suas belezas naturais, adornada pelos traços marcantes do Museu do Amanhã, fica irresistível. Instalado estrategicamente na Zona Portuária da Cidade Maravilhosa, a construção foi projetada pelo arquiteto espanhol Santiago Calatrava.
A construção consumiu cerca de R$ 300 milhões e levou 5 anos para ser concluída. Os traços futuristas são inspirados nas formas da natureza e, como um ser vivo, mudam de acordo com os movimentos do telhados. São 15 mil m2 inteiramente instalados numa estrutura em cima das águas.
A proposta do museu é proporcionar uma experiência completamente interativa, onde o público é convidado a pensar sobre o seu papel no mundo e como os seus hábitos podem se tornar mais sustentáveis. Um dos destaques é um filme gravado em 360º. Criada por Fernando Meirelles, a produção conta a história do universo em 8 minutos. Em seu primeiro ano de atividade, o Museu do Amanhã recebeu um público de mais de 1,4 milhão de pessoas, se tornando o mais visitado de todo o país.
Guggenheim Bilbao – Espanha
Talvez este seja o precursor dos mega museus com construções pra lá de exuberantes. Inaugurado há 20 anos, o Guggenheim de Bilbao fez o mundo olhar incrédulo para a cidade basca. O motivo? O ineditismo das formas criadas pelo arquiteto canadense Frank Gehry. A ideia de instalar um museu no local foi dos administradores do País Basco, que encomendaram à fundação Solomon R. Guggenheim um projeto para revitalizar a então degradada região portuária da cidade.
Para remeter ao passado glorioso das embarcações que passaram por ali, o museu parece, visto de baixo, com um barco. De cima, ele lembra uma flor. São 11 mil metros quadrados de espaços de exposições em dezenove galerias. Anualmente, quase 1 milhão de pessoas visitam o museu, o que proporcionou um salto na atividade turística da cidade desde a sua fundação. No entanto, a grandiosidade e os altos custos da obra tiveram muitas críticas durante sua construção e mesmo após a inauguração. Muitos alegam ainda que a inovação teria ficado apenas do lado de fora, já que as salas de exposição não seriam tão impressionantes quanto o exterior.
Museu Soumaya – Cidade do México
Inaugurado em 2011, o Soumaya custou quase 50 milhões de euros, sendo o museu mais caro do México. Os traços vanguardistas consistem numa brilhante estrutura assimétrica prateada e têm inspiração nas curvas das esculturas de Rodin. O prédio foi desenhado pelo arquiteto mexicano Fernando Romero, com a assessoria de Frank Gehry.São 46 metros de altura cobertos por mais de 16 mil placas de alumínio.
A impressão que estas placas não se tocam e não se apoiam no chão, como se estivessem flutuando ao redor do edifício, chama a atenção dos visitantes. O teto semitransparente permite que o piso superior seja iluminado diretamente pela luz do sol. O museu tem a maior coleção de obras de Rodin fora da França.
Também fazem parte do acervo antigos mestres europeus das escolas italiana, francesa, espanhola e alemã. A vanguarda espanhola e mexicana está representada por nomes como Picasso, Dalí, e Diego Rivera. A recomendação para os visitantes é que comecem a visitação pelo sexto andar, transitando pelo museu até o térreo.
Zeitz Museum – Cidade do Cabo / África do Sul
Imaginem uma antiga fábrica abandonada no porto da Cidade do Cabo. Acrescente a isso tubos gigantes de concreto com 42 metros de altura, cada um com uma largura de 5,5 metros. Este era o cenário que o inovador designer britânico Thomas Heatherwick e sua criativa equipe de arquitetos tinha à frente quando foram convidados para transformar a construção em museu.
O ambicioso projeto tinha o desafio de transformar o celeiro abandonado sem destruí-lo. Esta era uma forma de também prestar uma homenagem ao design da construção original, que fazia parte da cultura da região. Concluído o desafio, o Zeitz Museum foi inaugurado com pompa em setembro deste ano. É hoje o maior museu dedicado à arte africana e à diáspora negra. É também o maior museu construído no continente africano nos últimos 100 anos.
Design Museum Holon – Israel
Este foi o primeiro museu em Israel inteiramente dedicado ao design. Inaugurado em 2010, a instituição foi uma iniciativa para estabelecer a cidade de Holon como um epicentro de cultura e educação. Rapidamente, o museu se estabeleceu como uma das principais instituições de design e cultura contemporânea do país.
As inusitadas faixas coloridas que cercam toda a construção e são o o grande diferencial deste edifício são o ápice do projeto arquitetônico, uma criação do arquiteto e designer industrial israelense Ron Arad. A dinâmica curvilínea do projeto cria e explora a tensão entre as formas externas e os cômodos internos.
A maior parte de fora do museu é enrolada por uma estrutura de 5 faixas de aço que ondulam e se enroscam. Elas funcionam como uma espinha dorsal do prédio, suportando sua estrutura e orientando sua posição em relação ao que está em volta.O objetivo principal do museu é conscientizar a população sobre a importância do design em suas vidas e promover a formação de novos profissionais.
Milwaukee Art Museum – EUA
O museu é formado por três edificações, cada uma projetada por um lendário arquiteto. Mas é o prédio mais recente, concluído em 2001, e projetado por Santiago Calatrava, que hoje rouba a cena na paisagem de Milwaukee, no estado norte-americano de Wisconsin. Conhecido como Quadracci Pavillion, o prédio pós-moderno tem as formas típicas do arquiteto espanhol. O pátio central do museu remete a uma catedral e tem um teto de vidro abobadado com uma altura de 27 metros.
As estruturas em formato de asas retráteis impressionam pelo tamanho, são 66 metros, e se movem ao longo do dia para proteger o museu do sol. O museu tem um acervo de 35 mil trabalhos, com destaque para a maior coleção da artista Georgia O’Keeffe, que nasceu no estado. Outros artistas como Fragonard, Rodin, Edgar Degas, Claude Monet, Toulouse-Lautrec, Pablo Picasso, Miró e Mark Rothko também estão representados.
Museu Nacional de História Afro-Americana – EUA
A grandiosidade da trajetória dos negros pela América do Norte merecia um museu a sua altura. Inaugurado em 2016 com a presença do então presidente Barack Obama, o National Museum of African American History and Culture faz uma justa homenagem à população afro-americana e ocupa lugar de destaque no complexo de museus Smithsonian, em Washington. Mais de 1 milhão de visitantes já passaram pelos seus corredores.
O acervo tem quase 37 mil objetos, que resgatam as histórias das famílias, artes, religiões, direitos civis, escravidão e segregação racial. Entre os destaques, está a bíblia de Nat Turner, o clássico chapéu Fedora de Michael Jackson, além de trabalhos de artistas como Charles Alston, Elizabeth Cartlett e Henry O. Tanner. O museu é uma marca sutil na paisagem, mais da metade está abaixo do solo, com apenas cinco andares acima. A coroa é inspirada em elementos do Monumento Washington. Todo o edifício está envolto em uma pele de bronze ornamental – referência histórica ao artesanato afro-americano.