Ed Ruscha | Artista do Mês | Agosto de 2017

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Pintor, desenhista e cineasta, Ruscha tem em suas obras a influência da cidade de Los Angeles e o interesse pelas artes gráficas, mesclando texto e paisagens urbanas em seu trabalho

O artista pop Edward Ruscha nasceu em 1937 em Nebraska (EUA) e mudou-se para Los Angeles em 1956 para estudar no Chouinard Art Institute, com a intenção de se tornar um artista comercial.

Ruscha ganhou rápido reconhecimento já na década de 1960 como um importante representante do próspero movimento Pop Art e sucessor da Beat Generation, por suas colagens e obras baseadas em textos, tendo seu trabalho exibido em galerias como a Ferus, Leo Castelli e Gagosian.

Ruscha fala sobre mitos do romantismo americano, cultura comercial e vida urbana em obras cheias de humor e ironia. Às vezes, ele usa interferências incomuns em seu trabalho, incluindo sucos de frutas e vegetais, sangue, pólvora e outros.

Na década de 1980, seu estilo tornou-se mais místico, quando trabalhou com raios de luz, constelações e outros temas celestiais. Ruscha é reconhecido pelo uso espirituoso e enigmático de textos em suas pinturas, que continua incorporando em seus trabalhos até hoje.

Infância e primeiros estudos

Ed Ruscha cresceu em uma família católica que incluía o pai Edward, a mãe Dorothy e os irmãos Paul e Shelby. Seu pai trabalhou como auditor para uma companhia de seguros, até que o emprego o levou junto com a família para Oklahoma City, onde viveram por 15 anos. Embora Edward fosse muito religioso e rigoroso, Dorothy era uma amante da música, literatura e arte, apresentando esse aspecto cultural aos filhos.

Os talentos artísticos de Ruscha se desenvolveram cedo. Ele gostava de desenhar cartoons, interesse que manteve por muitos anos. Embora sua mãe tenha apoiado sua decisão de frequentar uma escola de arte, seu pai não gostou da ideia. Mesmo assim, quando Ruscha ganhou uma vaga no Chouinard Art Institute na Califórnia, seu pai mudou de ideia porque havia lido que Walt Disney geralmente oferecia empregos bem remunerados aos seus graduados.

Em 1956, quando Ruscha se mudou para Los Angeles para frequentar a Chouinard, (hoje o prestigiado California Institute of Arts), foi instantaneamente atraído pelo estilo de vida de Los Angeles. Mais tarde, lembrou: “Eles tinham uma cultura hot-rod, palmeiras, garotas de praia. E tinham jazz progressivo ao mesmo tempo. Tudo isso me vislumbrou um futuro bastante atraente”. Então, ele mergulhou neste estilo de vida e se envolveu na edição e produção de “Orb”, um jornal de arte e design.

Los Angeles Modern Auctions (LAMA) 20th Century Modern Art & Design

Los Angeles Modern Auctions (LAMA) 20th Century Modern Art & Design

Enquanto estudava em Los Angeles, seu pai morreu. Sua mãe decidiu que precisava expandir seus horizontes e, assim que Ruscha se formou em 1961, foi para a Europa com sua mãe e seu irmão. Eles viajaram por quatro meses, comprando um carro pequeno em Paris com o qual visitaram países por toda a Europa. Ruscha visitou museus, mas descobriu que ele não estava contaminado pela arte dos séculos passados. Ao invés disso, quando voltou à Paris no final da viagem, passou algum tempo caminhando pelas ruas e pintando sinalização local, como as que estavam acima das estações de metrô.

Depois de voltar para Los Angeles, Ruscha trabalhou para a Carson-Roberts Advertising Agency projetando layouts. Ele também começou a seguir sua carreira como um artista a sério a partir deste momento. Seus professores o treinaram para “enfrentar a tela e deixar acontecer, seguir seus próprios gestos, deixar a pintura se criar”. Mas ele evitou essa direção, bem como o expressionismo abstrato predominante na época, para encontrar seu próprio estilo, que se baseava na cultura popular e no seu amor pela cidade. Tempos depois, ele disse: “Eu podia ver que eu simplesmente nasci para o trabalho, nasci para assistir a pintura seca”.

Início da produção artística

Em 1962, Ruscha foi convidado a exibir seu trabalho como parte da mostra “New Painting of Common Objects” no Pasadena Art Museum, com curadoria de Walter Hopps. Esta exposição normalmente é atribuída como a primeira exposição em museu na América mostrando o que, mais tarde, seria chamada de Pop Art. Ruscha, o artista mais jovem do grupo, mostrou seu trabalho ao lado de peças de Roy Lichtenstein, Jim Dine, Joe Goode, Wayne Thiebaud e Andy Warhol.

No ano seguinte, Hopps convidou Ruscha para sua primeira individual em sua galeria comercial, a Ferus Gallery, onde Andy Warhol apresentou sua primeira individual em 1960. E exposição foi um sucesso e Ruscha vendeu seis pinturas. No mesmo ano, Hopps organizou uma grande retrospectiva de Marcel Duchamp, um artista que inspirou muito o pensamento de Ruscha. Ruscha participou da abertura da exposição e teve a oportunidade de conhecer Duchamp pessoalmente, uma experiência que ele valorizou muito.

 

Em 1965, Ruscha conheceu sua futura esposa, Danna, uma animadora de Hanna-Barbera. Descrito por amigos como vivaz e com um sorriso caloroso, Danna casou-se com Ruscha em 1967. O filho deles nasceu no ano seguinte e rececebu o nome de Eddie. Durante este período, Ruscha também ganhava dinheiro trabalhando como designer de layout para a revista Artforum, usando o pseudónimo Eddie Russia para enviar seu trabalho.

Ruscha era amigo de infância do guitarrista Mason Williams e ambos permaneceram próximos ao longo de suas vidas. Em 1968, Ruscha foi convidado a pintar uma imagem para a capa do disco de Williams. Vivendo em Hollywood, Ruscha conheceu vários atores e cineastas. A primeira compra de arte significativa do comediante Steve Martin, por exemplo, foi uma impressão da Ruscha, que ele comprou em 1968 por US$ 125. Alguns anos mais tarde, Martin decidiu ver por quanto ele poderia vender e um negociante lhe disse: US$ 625. Esta experiência, aliada ao amor pela arte contemporânea, o inspiraram a iniciar uma grande coleção, com forte presença do trabalho de Ruscha, e os dois ainda se tornaram amigos.

No início da década de 1970, Ruscha experimentou uma crise de confiança em sua pintura. Em 1972, ele foi pego dizendo: “Não consigo me colocar na pintura em tela. Não encontro mais nenhuma mensagem”. No mesmo ano, Ruscha se separou de sua esposa. Seu interesse em pintar reviveu pouco depois e, posteriormente, teve outros relacionamentos com modelos e atrizes. No final da década, se reencontrou com sua ex-esposa Danna e o casal reavivou seu relacionamento. Eles decidiram se casar mais uma vez em 1988, escolhendo a mesa capela em Las Vegas onde se casaram pela primeira vez.

I Don't Want No Retro Spective, 1979

I Don’t Want No Retro Spective, 1979

A primeira grande retrospectiva de Ruscha foi realizada em 1982 no San Francisco Museum of Modern Art. Para a capa do catálogo da exposição, ele escolheu um desenho feito em 1979, que apresenta as palavras “I don’t want no retro spective”. O trabalho de Ruscha tornou-se popular entre os colecionadores japoneses que entraram no mercado de arte contemporânea no final da década de 1980, subitamente gerando demanda pela sua obra.

Período maduro

Ruscha continuou a produzir em uma escala prolífica ao longo dos anos 90 e início dos anos 2000. Quando seu dealer original, Leo Castelli, morreu em 1997, Ruscha foi conquistado pelo magnata do mundo da arte, Larry Gagosian. Isto catapultou sua reputação como um importante artista internacional para fora de Los Angeles, evidenciado pela inclusão na Bienal de Veneza de 2005, onde mostrou “Course of Empire”, uma série de dez pinturas em grande formato. Sua fama coincidiu com o ressurgimento do interesse internacional em Los Angeles como um importante centro para o mundo da arte.

Ruscha continua trabalhando em uma casa construída em concreto no deserto da Califórnia, desenhada por Frank Gehry em 1976. Ele descreve a casa como “muito remota: a três horas de carro e a uma milha de distância da casa mais próxima”.

Legado

Ed Ruscha é considerado um artista “Made in L.A.”, com seus empréstimos da cultura popular e sua evocação das paisagens da cidade e seus arredores. Trabalhando como parte do movimento Pop Art, seu trabalho influenciou uma geração mais jovem de artistas, como Jeff Koons. Além disso, sua criação de telas com palavras isoladas influenciou outros artistas como Martin Creed, cujos projetos baseados em texto têm um impacto semelhante. Sua obra também tem muito em comum com práticas conceituais baseadas em texto, desenvolvidas na década de 1960, por artistas como Lawrence Wiener e Joseph Kosuth.

Os livros de artistas de Ruscha, como “Twentysix Gasoline Stations” (1962), também foram bastante influentes. Os artistas responderam aos seus livros em escala internacional ao longo dos últimos 60 anos, incluindo Bruce Nauman, cuja série “Burning Small Fires” (1968) consistiu em fotografias do artista queimando uma cópia de “Various Small Fires and Milk” (1964), outro livro de artista de Ruscha.

Reconhecimento

A artista Louise Lawler incluiu Ruscha em sua obra Birdcalls (1972/2008), uma obra de arte em áudio que transforma os nomes de artistas masculinos famosos em uma canção de pássaros, usando nomes como Artschwager, Beuys e Warhol com uma zombaria sobre o privilégio e reconhecimento dado aos artistas homens daquela época. Já Kent Twitchell pintou um mural de mais de mil metros quadrados no centro de Los Angeles para homenagear Ruscha, intitulado “Ed Ruscha Monument”, entre 1978 e 1987. O mural foi preservado até 2006, quando foi ilegalmente coberto. A banda Talking Heads deu o nome de “Sand in the Vaseline”, mesmo nome de uma obra de Ruscha de 1974. E a banda Various Cruelties recebeu o nome de uma pintura de Ruscha de 1974.

Entre 2006 e 2012, Ruscha serviu no conselho de curadores do Museu de Arte Contemporânea (MoCA) de Los Angeles, onde já havia sido incluído em oito exposições especiais. Em 2012, ele foi o homenageado de gala do Los Angeles County Museum of Art’s Art + Film; Ruscha também foi eleito para um mandato de três anos no conselho de curadores do Museu de Arte Moderna de São Francisco em 2013.

Em 2009, I Think I’ll … (1983), obra de Ruscha, foi instalada na Casa Branca. Em 2010, durante a primeira visita do primeiro-ministro britânico David Cameron a Washington, o presidente Barack Obama o presenteou com uma litografia de Ruscha, Column With Speed Lines (2003), escolhida pelas suas cores vermelha, branca e azul. Obama deu ao primeiro-ministro australiano Tony Abbott uma litografia semelhante durante sua visita à Casa Branca em 2014.

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Ed Ruscha no Mercado de arte

Em 2002, Talk About Space (1963), superou sua expectativa inicial de vends (entre US$ 1,5 e US$ 2 milhões) e foi arrematada por US$ 3,5 milhões na Christie’s em Nova York, um recorde para o artista. Em 2008, Eli Broad adquiriu Desire (1969) por US$ 2,4 milhões na Sotheby’s. A tela azul marinho com a palavra Smash em amarelo, que Ruscha pintou em 1963, foi comprada por Larry Gagosian por US$ 30,4 milhões no leilão Christie’s de 2014 em Nova York.

Angry Because It’s Plaster, Not Milk (1965) foi vendida por US$ 3,2 milhões na Phillips de Pury & Company, Nova York, em 2010. Da mesma série, Strange Catch for a Fresh Water Fish (1965) arrematou US$ 4,1 milhões na Christie’s de Nova York em 2011. E os múltiplos de Ruscha chegam a até US$ 40.000 cada.

 

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