Os frágeis heróis de Baselitz no Guggenheim Bilbao

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Séries de pinturas que exibem heróis fragilizados e vulneráveis permanecem no Guggenheim Bilbao até outubro

O Museu Guggenheim de Bilbao apresenta até 22 de outubro a exposição “Georg Baselitz: Los Heroes’, uma individual sobre a série de pinturas que retratam “heróis” ‘vulneráveis e fracassados, criadas entre 1965 e 1966 por um dos artistas mais influentes do nosso tempo.

Organizada pelo Museu Städel, de Frankfurt, em colaboração com o Guggenheim, Moderna Museet em Estocolmo e Palazzo delle Esposizioni, de Roma, a mostra reúne pela primeira vez 60 pinturas, desenhos e esboços de uma série composta por figuras monumentais, agitadas e desafiadoras, que são uma forte afirmação de si mesmo por parte do autor através de uma identidade que vai contra todas as tendências artísticas e de pensamento de seu tempo.

Os heróis de Baselitz

Depois da Segunda Guerra Mundial, em um tempo chamado estupor, muitas tradições e valores, ideologias, sistemas políticos e estilos artísticos foram revisados, e uma das noções tradicionais colocadas em questão foi o heroísmo, principalmente quando associado a arquétipos masculinos. Vinte anos após o fim da guerra, mas sendo levado por este contexto e por sua condição de alemão, Georg Baselitz trabalhou em uma de suas séries fundamentais, Os Heróis, hoje um emblema da criação alemã no pós-guerra.

O conjunto foi provocante, porque a definição marcada linhas e a energia das tonalidades contrasta com a fragilidade dos fundos dessas peças: os heróis do pintor, os novos heróis de guerra, se mostraram frágis e vulneráveis, destruídos e não vitoriosos. Usam uniformes militares, sim, mas muito desgastados, esfarrapados, e não transmitem valor, mas resignação.

Nesta exposição do Guggenhein estão expostas obras desta série inicial, ao lado de outras obras posteriores do artista criadas a partir dela, como Remix (2005) e uma nova versão de Heróis (2007-2008). Dado o intervalo de tempo entre as obras, podemos perceber o profundo interesse do artista pelos efeitos íntimos da guerra.

Max Hollein, curador da exposição, fala que “os heróis são tanto um marco quanto um eixo apaixonado na obra de Georg Baselitz. Emanam de uma necessidade interna profunda, em um confronto deliberado com temas atraentes e cheios de significado, desenvolvendo uma reflexão atemporal sobre a existência do artista como tal. Dando expressão ao isolamento, desprendimento e desorientação, visualizados de forma estridentemente e sentida, o trabalho recai ao precário estado experimental do artista em um mundo desajustado e estabelece uma imagem paradigmática de sua condição.

Adler 53 – Held 65 (Remix), 2007

Heróis e Novos Tipos

Ao pintar “Heróis e Novos Tipos”, Baselitz representou, além de soldados, pastores, guerrilheiros e pintores modernos em profunda solidão. Sua expressão e fraquezas, contrastam paradoxalmente com o vigor do autor para retratar com suas pinceladas abundante e linhas intensas. Tudo evoca força, exceto seus modelos precários e feridos, colocados sobre fundos de escombros e ecos de destruição.

No entanto, o artista deixa pequenos espaço para a esperança: a possibilidade de seguir em frente está presente através de pequenas carretas, naturezas simples ou ferramentas de trabalho.

Estas pinturas, todas do mesmo tamanho e diferenciada em seu cromatismo, acompanham no Guggenheim os desenhos e os primeiros exemplos de obras de Baselitz de 1966, peças onde o alemão experimentou a reorganização da imagem, anos antes de mergulhar em suas pinturas invertidas, mas em espírito não muito distantes destas.

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