As galerias da feira de São Paulo adaptaram suas seleções e ajustaram preços para atender à queda da demanda
Mesmo antes da estreia da SP-Arte, maior feira de arte moderna e contemporânea da América do Sul (encerrada no último domingo), seus organizadores sabiam que as coisas não seriam fáceis. No ano passado, no auge da forte recessão econômica do Brasil e da turbulência política, as vendas registradas tiveram queda de 45%, depois de atingir um recorde histórico nos últimos anos.
A incerteza era visível e as 134 galerias participantes adaptaram suas seleções e ajustaram seus preços para atender à queda da demanda. Tanto que a gestão deste ano decidiu passou a chamar o evento de festival: além de destacar as inúmeras parcerias com museus e centros culturais, essa bandeira ajuda a arredondar o orçamento com o apoio do governo.
Os negociantes internacionais que apostaram na SP-Arte foram cautelosamente otimistas. “Acreditamos na economia aqui. É um mercado em evolução “, disse Markus Kormann, diretor da Thaddaeus Ropac. A galeria não marcou presença no ano passado mas voltou este ano convencida de que havia sinais de recuperação, ao ponto de trazer uma grande escultura Baselitz na faixa de US$ 3 milhões.
Nara Roesler, uma das maiores galerias do Brasil, com filiais em São Paulo, Rio de Janeiro e Nova York, também conseguiu fazer algumas vendas antecipadas, como um relevo acrílico de Abraham Palatnik e uma pintura de Tomie Ohtake. No entanto, optou por não divulgar os preços.
Outra importante negociante paulistana, Luisa Strina, vendeu obras contemporâneas de Cildo Meireles, Fernanda Gomes, Marepe e Mateo López, todas dentro da faixa entre US$ 20 e US$ 40 mil. O mesmo aconteceu com a Zipper, que vendeu quatro (de um total de seis edições) de um retrato de Adriana Duque na faixa de US$ 15 mil.
Além da mudança na escala, com trabalhos menores para acolher um mercado mais tímido, as galerias que mostram o trabalho histórico privilegiaram as décadas de 1970, 1980 e 1990, com obras mais acessíveis do que as da década de 1960, privilegiada nas edições anteriores.
Outras descobertas puderam ser feitas, mesmo para obras do passado mais recente. Obras de Rubem Valentim – artista afro-brasileiro que logo será apresentado em retrospectivas na Malba de Buenos Aires e Masp de São Paulo – foram um sucesso nos estandes de Almeida e Dale e Berenice Arvani. A Zipper também destacou o trabalho de Mario Ramiro, famoso por seu papel no coletivo 3Nós3, cuja prática multimídia envolvendo intervenção urbana, fotografias e som é relevante para o conjunto contemporâneo de hoje.