Ai Weiwei vai ocupar Nova York com projeto gigantesco de arte pública

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Novamente, o artista chinês vai se apoderar de Manhattan, em um projeto defendido pelo prefeito e a primeira-dama, seus entusiastas

Depois de uma temporada de destaque em Nova York, no outono passado – quando o artista era alvo de nada menos do que quatro exposições simultâneas – Weiwei planeja montar seu projeto de arte pública mais ambicioso até o momento. Nesta estação, ele vai apresentar “Good Fences Make Good Neighbours”, uma instalação plural, em vários locais, que explora a inclinação da sociedade no sentido de erguer fronteiras.

A exposição é a mais recente iniciativa anunciada pelo Public Art Fund, que organiza instalações dinâmicas de arte contemporânea em Nova Iorque, celebrando o seu 40º aniversário.

Cercas de segurança pela cidade

O projeto envolverá instalações de cercas de segurança de arame em locais cuidadosamente escolhidos, incluindo o Essex Street Market no Lower East Side de Manhattan, o Cooper Union for the Advancement of Science and Art em Astor Place, abrigos de ônibus JCDeaux no Brooklyn, Doris C. Freedman Plaza no Central Park e Flushing Meadows Park no Queens. As obras permanecem em exposição entre 12 de outubro de 2017 e 11 de fevereiro de 2018.

Weiwei pretende transformar “um elemento arquitetônico comum em uma série de instalações impressionantes”, segundo o curador-chefe e diretor do Public Art Fund, Nicholas Baume, acrescentando que o artista segue “na tradição radical de artistas que começaram a usar a trama da própria cidade como uma plataforma criativa nos anos 70”.

Inspirando-se no poema clássico de Robert Frost, “The Mending Wall”, Weiwei deve abordar as atuais batalhas sociopolíticas e os conflitos sobre a imigração, chamando a atenção para “o papel da cerca como manifestação física e expressão metafórica da divisão”, de acordo com uma declaração do Public Art Fund.

Ai Weiwei na fronteira entre EUA e México, em Tijuana, 2016

Weiwei e sua relação com a imigração e com a crise dos refugiados

Depois de reaver seu passaporte em 2015, quatro anos depois de ter sido confiscado pelas autoridades chinesas, o artista viajou extensivamente, em especial para áreas de refugiados, incluindo campos improvisados. Em suas exposições recentes, ele documentou cuidadosamente a situação destas pessoas, deslocadas pela guerra e pela opressão – por exemplo, coletando e lavando roupas, sapatos e outros itens pessoais deixados por aqueles que foram forçados a seguir em frente.

A prática constante de Ai Weiwei e este projeto, em particular, dão continuidade ao desafio anteriormente assumido por outros artistas internacionais, que têm lançado um olhar crítico sobre a história controversa dos EUA e suas políticas e práticas de imigração – como a performance de Joseph Beuys, em 1974,  “I Like America and America Likes Me”, e Tehching Hsieh, que irá representar Taiwan na próxima Bienal de Veneza.

Em uma declaração, o artista disse: “Na década de 1980, fui um imigrante durante dez anos em Nova York e as questões sobre migração têm sido, de longa data, um foco da minha prática. A cerca sempre foi uma ferramenta no vocabulário do paisagismo político e evoca associações à palavras como ‘fronteira’, ‘segurança’ e ‘vizinho’, que estão conectadas ao atual ambiente político global. Mas o que é importante lembrar é que, embora as barreiras tenham sido usadas para nos dividir, como seres humanos somos todos iguais”.

Cercas e barreiras: lembrete ao momento político atual

O prefeito Bill de Blasio expressou entusiasmo pelo projeto, afirmando que a exposição “serve como um lembrete aos nova-iorquinos para que, embora as barreiras possam tentar nos dividir, devemos nos unir para ter um impacto significativo na comunidade maior. Nova York tem servido por muito tempo como um portal para os Estados Unidos para milhões de imigrantes que procuram uma vida melhor e há muito tempo se beneficiou de suas contribuições e serviços”. Ele descreveu a mostra de Ai Weiwei como “expansiva”, ao explorar temas como liberdade e o poder da auto-expressão, um símbolo perfeito e um lembrete para todos nós, especialmente no clima político atual.

A exposição vai convidar o público a considerar o papel da cerca na sociedade moderna, bem como a nossa própria relação com o objeto em questão, e ainda propor questões como: “Esta cerca serve a um propósito? De que me separa? De que lado da cerca estou? Me protege, ou me sinto constrangido?”

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