Alighiero Boetti | Artista do Mês | Janeiro de 2017

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Um dos expoentes da Arte Povera e considerado um dos artistas mais importantes do pós-guerra, Boetti continua atual em sua temática

Alighiero Boetti (Turim, 1940 – Roma, 1994), é um dos artistas mais influentes do pós-guerra, considerado extremamente atual ainda nos dias de hoje. A temática que percorre sua intensa carreira artística desde o final dos anos 60 até meados dos anos 90 – limites, caos, complexidade, variedade de línguas e culturas, a função expressiva da arte, o seu significado na sociedade, o conceito de individualidade e ideia de cópia – continuam sendo objetos de debate no mundo contemporâneo.

Ainda jovem, Boetti começou a estudar artistas como Lucio Fontana, Arshile Gorky e Mark Rothko. Inspirado e à procura de seu próprio estilo artístico, Alighiero Boetti foi para Paris em 1962, onde treinou autodidaticamente. Durante os dois anos que permaneceu em Paris, Alighiero Boetti estudou principalmente a temática artística de Jean Dubuffet.

Arte Povera

Em 1967, Boetti fez sua primeira exposição individual na Galería Christian Stein (Turim, Itália), onde apresentou esculturas construídas com materiais industriais. Em setembro do mesmo ano, participou com os artistas Luciano Fabro, Jannis Kounellis, Giulio Paolini, Pino Pascali e Emilio Prini na histórica exposição “Arte Povera e Im-spazio” com curadoria de Germano Celant, na Galeria La Bertesca, em Gênova. De lá em diante, participou das exposições mais importantes do movimento Arte Povera.

Um exemplo famoso de seu trabalho de Arte Povera é “Lampada annuale” (1966), uma única lâmpada de grande porte em uma caixa de madeira espelhada, que aleatoriamente se liga por onze segundos a cada ano. Este trabalho, que está em exibição no Tate Modern, se concentra tanto nos poderes transformadores da energia como nas possibilidades e limitações do acaso – a probabilidade de um espectador estar presente no momento da iluminação é remota.

Boetti se desvinculou do movimento Arte Povera em 1972 e mudou-se para Roma. Apesar desta desassociação, ele não abandonou completamente algumas das estratégias democráticas e anti-elitistas do movimento.

Autodidata, depois de deixar seus estudos em economia, se interessou pela cultura do Oriente (especialmente o Afeganistão) e por várias disciplinas, como filosofia, alquimia, ciência, linguística, música e artes decorativas. Através do seu trabalho sobre o conceito de séries e repetições, desafia o papel tradicional do artista para desenvolver o problema da dualidade; na obra “Gemelli” (1968), o artista criou uma fotomontagem onde representava a si mesmo segurando com sua mão o seu par – ele mesmo. Esta tendência levou-o, no final de 1972 e início de 1973, a assinar suas obras como Alighiero e Boetti.

Biro e bordados

A partir de 1970, ele produziu suas primeiras imagens com caneta esferográfica Biro e, a partir de 1973, surgiram suas famosas gravuras com bordados – que mais tarde, no início dos anos 90, se tornaram mapas bordados.

De 1971 a 1980, ele se torna obcecado pelo conceito de série e a ordem estabelecida das coisas, buscando codificar tudo: rios, bandeiras, símbolos. No mesmo ano, começou a sua produção de mapas do mundo, intitulados “Mappa”, tapeçarias coloridas onde a bandeira de cada país ocupa o contorno político do mapa-mundi.

Alighiero Boetti Alighiero e Boetti, 1982 ball point pen ink on paper (101.5 x 214.5 cm)

Alighiero Boetti
Alighiero e Boetti, 1982
caneta esferográfica sobre papel (101.5 x 214.5 cm)

Viajou regularmente ao Afeganistão, onde começou seu interesse formal e conceitual nas tapeçarias, realizadas mulheres afegãs, dando lugar aos trabalhos colaborativos. Suas reflexões sobre a questão da dualidade e a participação de outros na execução da obra estimulam o intercâmbio cultural e o uso de diferentes línguas nas formas de comunicação.

A invasão soviética, em 1979, tornou impossíveis as operações de Boetti no Afeganistão, mas ele continuou a trabalhar em seus mapas, mudando de Kabul para Peshawar, no Paquistão, onde o grupo de artesãos afegãos se refugiou.

Seu projeto mais ambicioso foi uma grande peça bordada intitulada “Classificazione dei mille fiumi piu lunghi del mondo” (algo como “Classificação dos mil rios mais longos do mundo”, 1977). Em letras-caixa, este trabalho soletra os nomes dos 1000 rios mais longos do mundo em ordem decrescente de comprimento. Baseia-se em uma lista que exigiu mais de sete anos de pesquisas de Boetti e sua primeira esposa, Anne Marie Sauzeau, uma crítica de arte, e que é conhecida por muitos cientistas como a “Lista Boetti”.

Aerei, 1989

Aerei, 1989

Em sua Aerei (1977), ou série de aviões, Alighiero e Boetti executou desenhos lineares e aviões modernos e históricos. Originalmente retiradas de revistas populares, essas imagens, muitas vezes de tamanho mural, construíam um espaço ilusório de ação e movimento.

Na década de 1980, criou a série de tapeçarias em grandes dimensões “Tutto”, cuja superfície é coberta com uma multiplicidade de imagens.

A partir de 1987, Boetti passou a trabalhar com o iraniano Mahshid Mussari, que colecionou vários padrões de motivo para seu último e maior bordado, encomendado no Afeganistão em 1993. Alighiero Boetti, no entanto, não viveu para ver a conclusão deste trabalho, que levou 10 meses. Boetti morreu em 24 de fevereiro de 1994, em consequência de um tumor cerebral, em Roma.

Sua imensa obra “Map of the World” (1989) está em exibição permanente como uma peça importante da coleção do MoMA de Nova York.

Exposições e retrospectivas

Alighiero Boetti participou de mais de 170 exposições individuais e 275 coletivas, em importantes espaços culturais e galerias em Itália, França, Alemanha, EUA, Bélgica, Londres, entre outros. Participou várias vezes na Bienal de Veneza (1972- 1978-1980-1986-1990, entre outros), na Bienal de São Paulo (1975), Documenta, Kassel (1972-1982), Centre Georges Pompidou, Paris (1993 -1997-2003), MOMA (1994-2000-2002), o Museu Guggenheim (1994) e PS1 (1997). Em 1996, uma grande retrospectiva de sua obra foi realizada no Galleria Civica d’Arte Moderna, Turim.

Mercado da arte

Em 2010, o Mappa (1989) de Boetti foi vendido na Christie’s de Londres por US$ 2,75 milhões. No mesmo ano, uma de suas pinturas de caneta esferográfica, Ononimo (1973), foi vendida por US$ 1.6 milhão, também na Christie’s de Londres. Em 2011, Tutto (1988) estabeleceu outro recorde, vendida por US$ 2 milhões.

Alighiero Boetti é representado pela Sprüth Magers Berlim (Londres), Gagosian e Tornabuoni Art. Em 1995, o Archivio Alighiero Boetti, sediado em Roma, foi criado para a emissão de certificados de autenticidade para as obras do artista.

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