Banksy | Artista do Mês | Setembro/2016

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Há mais de 20 anos sob anonimato, Banksy transformou a trajetória da arte urbana e é um dos artistas mais singulares, polêmicos e criativos do cenário atual

Circulando além de seu espectro de street art, Banksy é considerado um artista singular, que mistura em seus pincéis e grafites não apenas doses de críticas ao cotidiano político e social, mas também um humor criativo, satírico e bastante ácido sobre a sociedade que o cerca. De identidade nunca revelada, o artista usa o pseudônimo para assinar seus trabalhos – de grafites à telas e intervenções, passando por um recém “Parque Temático” chamado Dismaland, sempre em tom sarcástico.

O uso de estêncil, técnica que o consagrou e considerada novidade nas ruas britânicas nos idos dos anos 1990, foi adotada por segurança: pintando direto na parede, ele demorava tanto que dava tempo da polícia chegar.

Banksy começou na cena underground de Bristol, inspirado por artistas locais. Nesta época, conheceu o fotógrafo Steve Lazarides, que começou a vender suas obras e depois tornou-se seu agente. Seu primeiro mural amplamente reconhecido foi “The Mild Mild West”, pintado em 1997, que retrata um urso de pelúcia arremessando um coquetel Molotov contra três policiais. Hoje, suas obras se espalham em muros, ruas, pontes e edifícios de cidades do mundo todo.

O mais conhecido artista desconhecido

Seus murais apresentam imagens bem-humoradas, geralmente combinadas com slogans. As mensagens são geralmente anti-guerra, anti-capitalista ou anti-establishment. Os temas frequentemente incluem ratos, macacos, policiais, soldados, crianças e idosos.

Neles, Banksy expõe claramente sua total aversão aos conceitos de autoridade e poder. Através delas, faz suas críticas, normalmente sociais, mas também comportamentais e políticas, de forma agressiva e sarcástica, provocando em seus observadores, quase sempre, uma sensação de concordância e de identidade. Apesar de não fazer caricaturas ou obras humorísticas, não raro, a primeira reação de um observador frente a uma de suas obras será o riso. Espontâneo, involuntário e sincero, assim como suas obras.

Seu primeiro filme, “Exit Through the Gift Shop”, fez sua estréia no Sundance Film Festival em 2010 e foi indicado ao Oscar de Melhor Documentário em 2011. O filme, segundo o próprio artista, é “o primeiro filme-catástrofe de arte de rua”. Banksy foi premiado como Personalidade do Ano em 2014 no Webby Awards.

Anonimato

Com seu rosto protegido por seus fiéis escudeiros, o artista foi muito além de pintar figuras irônicas e frases de efeito em paredes de prédios. Deixou mensagens em jaulas de zoológico – “Quero sair. Chato, chato, chato”, escreveu na jaula de um elefante. Acrescentou obras a museus – em 2005, sua pintura “penetra” de homens da caverna caçando um carrinho de supermercado acabou indo pro acervo permanente do Museu Britânico. Produziu notas de £ 10 substituindo a rainha Elizabeth pela princesa Diana, hoje vendidas por £ 200; em seu documentário, ele comenta: “Foi como se houvesse falsificado dinheiro, posso ir pra cadeia por isso”.

“Banksy é auxiliado pelo fato de que as pessoas parecem apreciar uma celebridade misteriosa tanto quanto gostam de saber dos ‘segredos’ de uma celebridade. Os fãs leais estão determinados a não saber quem ele é”, descreve a biografia “Banksy – Por Trás das Paredes”, escrita por Will Ellsworth-Jones, sobre a proteção, até mesmo natural, que é feita ao redor do excêntrico artista.

Mesmo antes de ficar famoso, Bansky já assinava a capa do álbum “Think Tank”, da banda Blur, em 2003. No mesmo ano, sua exposição “Turf War” chamou a atenção, ao usar ovelhas, porcos e vacas pintados. Ele repetiria a estratégia em várias exposições seguintes – em Los Angeles, fez um elefante combinar com o papel de parede.

Em 2005, pintou imagens de um mundo perfeito no lado palestino do muro que separava o território de Israel. “Este muro foi considerado ilegal pela ONU, mas garante um feriadão para um grafiteiro”, escreveu em seu site. Jo Brooks, sua porta-voz, recorda que “as forças de segurança israelenses chegaram a atirar para o alto, e houve um bocado de armas apontadas para ele”.

O efeito Banksy

A partir de 2007, Banksy viu seu nome crescer em importância e reconhecimento – e também lucratividade. Inúmeras de suas obras foram arrematadas em leilões em Londres, incluindo a obra “Space Girl and Bird”, arrematada por £ 288,000 (US$ 576,000), cerca de 20 vezes a mais do que o preço estimado inicialmente pela Bonhams de Londres.

Também foi em 2007 que o jornalista Max Foster cunhou a expressão “O Efeito Banksy” para ilustrar como o interesse em outros artistas de rua estava crescendo, pegando carona no sucesso de Banksy.

Realizada em sua cidade de origem, Bristol, a exposição Banksy vs Bristol Museum” atrai cerca de 300 mil pessoas em 12 semanas, no ano de 2009. A mostra era uma “apropriação do museu”, onde Banksy fez suas obras interagirem com o acervo permanente.

Projetos ambiciosos além dos muros

Das ruas para a TV, Banksy foi convidado em 2010 para criar uma das aberturas de Os Simpsons. O resultado é tão contestador quanto político: em quase dois minutos, a animação mostra asiáticos encarando péssimas condições de trabalho para produzir o desenho. O humor, claro, não foi esquecido, com pandas escravizados, gatinhos fofos usados como recheio de pelúcias e até um unicórnio decrépito sendo usado para fazer os furos dos DVDs.

Em 2013, Banksy passou todo o mês de outubro em Nova York, apresentando uma nova intervenção por dia ao redor da cidade, na série que foi chamada “Better Out Than In”. Todas as suas intervenções foram divulgadas em um site e acabaram atraindo a atenção de moradores e turistas, incluindo um mural colaborativo entre Banksy e os brasileiros Os Gêmeos. Dentre alguns dos trabalhos se destacaram uma crítica à construção do One World Trade Center, uma escultura de um Ronald McDonald mal-humorado usando um enorme sapato vermelho que era engraxado por um jovem humano e um caminhão que estava repleto de bichos de pelúcia que choravam e gritavam simbolizando animais indo para o abate.

No verão europeu de 2015, Banksy criou um projeto temporário chamado “Dismaland”, um parque temático distópico construído na cidade litorânea de Weston-super-Mare, na Inglaterra, em um local abandonado por mais de 15 anos. Preparado em segredo, o projeto apresentou 10 novas obras de Banksy e as peças de 58 outros artistas. Nas cinco semanas em que funcionou, o parque atraiu mais de 150 mil visitantes e faturou cerca de R$ 120 milhões. Por fim, o artista informou em seu site oficial que “Toda a madeira e materiais usados para construir Dismaland serão enviados para o campo de refugiados Selva de Calais, para construir abrigos”. Com seu típico sarcasmo, acrescentou: “Não haverá bilhetes disponíveis online“.

Provavelmente o mais controverso artista de rua do mundo, Banksy tem desenvolvido uma subcultura inteira dedicada às suas obras. Sua arte pode surgir em qualquer local, a qualquer momento. E suas imagens poderosas, muitas vezes controversas, muitas vezes saem dos muros e invadem a internet com infinitos virais.

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