Considerada como uma das figuras mais influentes da pintura na atualidade, Marlene Dumas vem explorando continuamente a complexa gama de emoções humanas, abordando com frequência questões de gênero, raça, sexualidade e desigualdade econômica. Seu trabalho é influenciado pela suas experiências de infância em meio ao Apartheid e aborda as lutas sociais dos povos oprimidos de todo o mundo.
Através de seu foco na figura humana, Dumas mescla temas político-sociais com experiências pessoais e antecedentes da história da arte para criar uma perspectiva única sobre as questões mais importantes e controversas enfrentadas pela sociedade contemporânea. Seu trabalho explora de forma consistente as construções de identidade e as fluidas distinções entre o público e o privado.
No passado, Dumas produziu pinturas, colagens, desenhos, gravuras e instalações. Agora, trabalha principalmente com óleo sobre tela e tinta sobre papel. As fontes que usa em seu imaginário são diversas e incluem recortes de jornais e revistas, recordações pessoais, pinturas flamencas e fotografias Polaroid. A maioria de suas obras poderia ser classificada como “retratos”, mas elas não o são no sentido tradicional.
A relação entre arte e beleza feminina, arte e pornografia, modelos femininos e modelos de arte são temas constantes. Sua obra lembra as pinturas gestuais do expressionismo, embora combinem a distância crítica da arte conceitual com os prazeres do erotismo. Através de suas delicadas pinturas de óleo sobre tela ou tinta e aquarela sobre as formas femininas ou retratos de crianças e imagens de acontecimentos contemporâneos, ela comenta sobre o estado da pintura de hoje.
Marlene Dumas nasceu na Cidade do Cabo, África do Sul, em 3 de Agosto de 1953. Estudou na Universidade de Cape Town antes de se mudar para a Holanda no final da década de 1970, a fim de estudar pintura e psicologia. Com uma bolsa de estudos de dois anos, completou seus estudos em Haarlem, na Holanda. Desde 1976 vive e trabalha em Amsterdã.
Ela se dedicou a pintar pessoas e lugares a partir de sua vasta coleção de fotografias ou de outras selecionadas a partir de jornais e revistas. Suas obras eram em formatos pequenos, retratos realísticos de uma intimidade que desvinculavam seus personagens de sua persona pública, camuflando-os em uma crítica de sua identidade ou política.
A partir de 1978 começou a participar de exposições internacionais, sendo uma das artistas mais admiradas da Holanda. Em 1995 representou o país na Bienal de Veneza e em 1996 a Tate Gallery exibiu uma seleção de suas obras sobre papel.
Em 1984 Dumas começou a pintar cabeças e figuras. Sua série “The Eyes of the Night Creatures”, executada em meados da década de 1980, explora temas recorrentes na obra do artista, incluindo a intolerância racial e étnica.
No final da década de 1980 e começo da década de 1990, Dumas produziu uma série de obras em torno dos temas gravide e bebês. Em 1987 ela deu a luz à sua filha Helena e, a partir daí, um grande corpo de trabalho veio a seguir. O mais interessante é “The First People”, série de quatro telas dedicadas a recém-nascidos. Cada uma delas é grande (muitas vezes maior do que o tamanho real) e é composta verticalmente. Ela não idealiza suas imagens; ao contrário, os bebês são pouco atraentes, pequenos seres contorcidos com os dedos nodosos, barrigas proeminentes e pele enrugada. Na década de 1990 Dumas voltou indiretamente ao assunto do Apartheid. Entre 1998 e 2000, em colaboração com o fotografo Anton Corbijn, ela trabalhou no projeto “Stripping Girls”, que trouxe como tema os clubes de strip-tease e peep shows de Amsterdã. Enquanto Corbijn exibiu suas fotografias na mostra, Dumas usou as polaroides como fonte de seus quadros.
Desde que ela começou a pintar seus retratos na década de 1980, figuras famosas que vão desde Osama Bin Laden a Naomi Campbell, membros de sua família, amigos e até desconhecidos se tornaram motivo de suas obras. Os assombrosos e distorcidos rostos e corpos de suas figuras são produto do seu uso de tinta diluída, removendo os pigmentos da tela para criar imagens desbotadas, características de seu trabalho.
Para a Manifesta 10 em São Petersburgo, Dumas criou “Great Men”, série de 16 retratos em tinta e lápis de famosos homens gays, incluindo James Baldwin, Leonard Matlovich, Rudolf Nureyev, Vaslav Nijinsky, Pyotr Ilyich Tchaikovsky, Alan Turing, Oscar Wilde e Tennessee Williams. Cada um dos homens retratados foi perseguido, de uma forma ou de outra, pelo fato deles supostamente serem homossexuais. De acordo com Dumas, a série foi criada para “contribuir para uma mudança de mentalidade” na Rússia, em um momento de crescimento da legislação anti-gay no país.
Reconhecida pela qualidade gestual e a austeridade das pinturas, as obras Marlene Dumas confrontam temas complicados, que vão de pornografia à segregação. Suas pinturas figurativas muitas vezes retratam corpos nus envolvidos em atos amorosos, alguns deles eróticos, outros desconcertantes.
Ao brincar com a perspectiva e a proporcionalidade destas imagens, Dumas destaca apenas o que é mais importante – a expressão, o ponto de contato, o epicentro da emoção. Utilizando como ponto de partida as fotografias de seu acervo pessoal e de mídias impressas, Dumas as recria em tons de cinza e marrom, uma paleta bastante usada em sua exposição “Against the Wall” (em 2010), na qual capturou características do conflito Israel-Palestina.
Em 2004, a tela “Jule, die Vrou (Jule, a Mulher)”, de 1985 – um close do rosto de uma travesti – foi leiloada por US$ 1,24 milhões na Christie’s. Em 2005, na Christie’s de Londres, “The Teacher” (1987), uma interpretação de uma fotografia posada de uma classe, foi vendida por US$ 3,34 milhões. Em 2008, “The Visitor” (1995), vendida por £3,1 milhões pela Sotheby’s fez com que Dumas se tornasse a artista mulher mais cara da época.
Desde 2008, seu trabalho é representado pela David Zwirner. Em 2010, “Against the Wall”, sua primeira exposição individual na galeria, viajou depois para o Museu Serralves, em Portugal.
Em 2014, o Stedelijk Museum em Amsterdã apresentou “Marlene Dumas: The Image as Burden”, a maior retrospectiva do trabalho da artista, que reuniu mais de cem desenhos e pinturas de coleções privadas e museus. A exposição viajou para a Tate Modern, em Londres, e depois para a Fondation Beyeler, em Basel, em 2015.