Marlene Dumas | Artista do Mês | Junho/2016

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Considerada como uma das figuras mais influentes da pintura na atualidade, Marlene Dumas vem explorando continuamente a complexa gama de emoções humanas, abordando com frequência questões de gênero, raça, sexualidade e desigualdade econômica. Seu trabalho é influenciado pela suas experiências de infância em meio ao Apartheid e aborda as lutas sociais dos povos oprimidos de todo o mundo.

Através de seu foco na figura humana, Dumas mescla temas político-sociais com experiências pessoais e antecedentes da história da arte para criar uma perspectiva única sobre as questões mais importantes e controversas enfrentadas pela sociedade contemporânea. Seu trabalho explora de forma consistente as construções de identidade e as fluidas distinções entre o público e o privado.

No passado, Dumas produziu pinturas, colagens, desenhos, gravuras e instalações. Agora, trabalha principalmente com óleo sobre tela e tinta sobre papel. As fontes que usa em seu imaginário são diversas e incluem recortes de jornais e revistas, recordações pessoais, pinturas flamencas e fotografias Polaroid. A maioria de suas obras poderia ser classificada como “retratos”, mas elas não o são no sentido tradicional.

A relação entre arte e beleza feminina, arte e pornografia, modelos femininos e modelos de arte são temas constantes. Sua obra lembra as pinturas gestuais do expressionismo, embora combinem a distância crítica da arte conceitual com os prazeres do erotismo. Através de suas delicadas pinturas de óleo sobre tela ou tinta e aquarela sobre as formas femininas ou retratos de crianças e imagens de acontecimentos contemporâneos, ela comenta sobre o estado da pintura de hoje.

Marlene Dumas nasceu na Cidade do Cabo, África do Sul, em 3 de Agosto de 1953. Estudou na Universidade de Cape Town antes de se mudar para a Holanda no final da década de 1970, a fim de estudar pintura e psicologia. Com uma bolsa de estudos de dois anos, completou seus estudos em Haarlem, na Holanda. Desde 1976 vive e trabalha em Amsterdã.

Ela se dedicou a pintar pessoas e lugares a partir de sua vasta coleção de fotografias ou de outras selecionadas a partir de jornais e revistas. Suas obras eram em formatos pequenos, retratos realísticos de uma intimidade que desvinculavam seus personagens de sua persona pública, camuflando-os em uma crítica de sua identidade ou política.

A partir de 1978 começou a participar de exposições internacionais, sendo uma das artistas mais admiradas da Holanda. Em 1995 representou o país na Bienal de Veneza e em 1996 a Tate Gallery exibiu uma seleção de suas obras sobre papel.

Em 1984 Dumas começou a pintar cabeças e figuras. Sua série “The Eyes of the Night Creatures”, executada em meados da década de 1980, explora temas recorrentes na obra do artista, incluindo a intolerância racial e étnica.

No final da década de 1980 e começo da década de 1990, Dumas produziu uma série de obras em torno dos temas gravide e bebês. Em 1987 ela deu a luz à sua filha Helena e, a partir daí, um grande corpo de trabalho veio a seguir. O mais interessante é “The First People”, série de quatro telas dedicadas a recém-nascidos. Cada uma delas é grande (muitas vezes maior do que o tamanho real) e é composta verticalmente. Ela não idealiza suas imagens; ao contrário, os bebês são pouco atraentes, pequenos seres contorcidos com os dedos nodosos, barrigas proeminentes e pele enrugada. Na década de 1990 Dumas voltou indiretamente ao assunto do Apartheid. Entre 1998 e 2000, em colaboração com o fotografo Anton Corbijn, ela trabalhou no projeto “Stripping Girls”, que trouxe como tema os clubes de strip-tease e peep shows de Amsterdã. Enquanto Corbijn exibiu suas fotografias na mostra, Dumas usou as polaroides como fonte de seus quadros.

Desde que ela começou a pintar seus retratos na década de 1980, figuras famosas que vão desde Osama Bin Laden a Naomi Campbell, membros de sua família, amigos e até desconhecidos se tornaram motivo de suas obras. Os assombrosos e distorcidos rostos e corpos de suas figuras são produto do seu uso de tinta diluída, removendo os pigmentos da tela para criar imagens desbotadas, características de seu trabalho.

Great Men, obras de Marlene Dumas expostas na Manifesta 10

Great Men, obras de Marlene Dumas expostas na Manifesta 10

Para a Manifesta 10 em São Petersburgo, Dumas criou “Great Men”, série de 16 retratos em tinta e lápis de famosos homens gays, incluindo James Baldwin, Leonard Matlovich, Rudolf Nureyev, Vaslav Nijinsky, Pyotr Ilyich Tchaikovsky, Alan Turing, Oscar Wilde e Tennessee Williams. Cada um dos homens retratados foi perseguido, de uma forma ou de outra, pelo fato deles supostamente serem homossexuais. De acordo com Dumas, a série foi criada para “contribuir para uma mudança de mentalidade” na Rússia, em um momento de crescimento da legislação anti-gay no país.

Reconhecida pela qualidade gestual e a austeridade das pinturas, as obras Marlene Dumas confrontam temas complicados, que vão de pornografia à segregação. Suas pinturas figurativas muitas vezes retratam corpos nus envolvidos em atos amorosos, alguns deles eróticos, outros desconcertantes.

Ao brincar com a perspectiva e a proporcionalidade destas imagens, Dumas destaca apenas o que é mais importante – a expressão, o ponto de contato, o epicentro da emoção. Utilizando como ponto de partida as fotografias de seu acervo pessoal e de mídias impressas, Dumas as recria em tons de cinza e marrom, uma paleta bastante usada em sua exposição “Against the Wall” (em 2010), na qual capturou características do conflito Israel-Palestina.

Em 2004, a tela “Jule, die Vrou (Jule, a Mulher)”, de 1985 – um close do rosto de uma travesti – foi leiloada por US$ 1,24 milhões na Christie’s. Em 2005, na Christie’s de Londres, “The Teacher” (1987), uma interpretação de uma fotografia posada de uma classe, foi vendida por US$ 3,34 milhões. Em 2008, “The Visitor” (1995), vendida por £3,1 milhões pela Sotheby’s fez com que Dumas se tornasse a artista mulher mais cara da época.

Desde 2008, seu trabalho é representado pela David Zwirner. Em 2010, “Against the Wall”, sua primeira exposição individual na galeria, viajou depois para o Museu Serralves, em Portugal.

Em 2014, o Stedelijk Museum em Amsterdã apresentou “Marlene Dumas: The Image as Burden”, a maior retrospectiva do trabalho da artista, que reuniu mais de cem desenhos e pinturas de coleções privadas e museus. A exposição viajou para a Tate Modern, em Londres, e depois para a Fondation Beyeler, em Basel, em 2015.

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