Desde o início de sua trajetória, a alemã Candida Höfer vem se dedicando a fotografar lugares impregnados de história. A maior parte de suas imagens mostra espaços interiores, lugares de encontros, comunicação e saber – como bibliotecas, museus, salas de concerto, teatros e palácios. São espaços vitais criados pelo homem, funções específicas. Em majestosas fotografias de grandes formatos, ela capta os resíduos psicológicos deixados para trás nestes espaços públicos, geralmente quando estão desprovidos da presença humana. Através delas, o espectador estabelece uma dramática conexão entre a sociologia, psicologia e funcionalidade destes locais.
Sua obra explora a estrutura, apresentação e influência dos interiores arquitetônicos e explora o contraste em as suas propostas e como são, de fato, utilizados na realidade cotidiana. Embora desprovida de pessoas, as imagens de Höfer nos permitem refletir sobre o papel de seus habitantes ausentes. O formato grandioso do seu trabalho e a sua meticulosidade convidam o espectador a se demorar sobre os detalhes da arquitetura e contemplar as mudanças sutis das luzes que compõem as características do espaço.
Nascida em 1944 em Eberswalde, Província de Brandemburgo, Höfer estudou na Kölner Werkschulen (Academia de Belas Artes de Colonia) entre 1964 e 1968. Com a ajuda de seu pai, o jornalista alemão Werner Höfer, ela ingressou em sua carreira profissional fotografando retratos para um jornal local, passando em seguida para assistente do staff. De 1970 a 1972, ela estudou daguerreótipos, enquanto trabalhava como assistente de Werner Bokelberg em Hamburgo.
Ela se mudou para estudar na Kuntstakademie Dusseldorf, entre 1973 e 1982. Lá, estudou cinema com o cineasta dinamarquês Ole John e fotografia com os influentes fotógrafos 5, que também ensinaram notáveis fotógrafos como Andreas Gursky , Thomas Struth, Axel Hütte e Thomas Ruff.
Sob a tutela dos Becher, foi uma das primeiras a usar cores em suas fotos e desenvolveu a perfeição técnica e a abordagem estritamente conceitual, pelos quais viria a se tornar reconhecida mundialmente.
Seus primeiros trabalhos abordavam as mudanças visuais na sociedade alemã, trazidas pelos trabalhadores imigrantes vindos da Turquia. Este tema despertou seu interesse pelo impacto causado pelos ambientes construídos nas pessoas.
Ela se voltou, então, para os espaços públicos, desde salas de espera em estações de trem, assim como espaços diversos como spas, bibliotecas, museus, jardins zoológicos, bancos e teatros – alguns deles reconhecidos como espetaculares ícones culturais, outros de arquitetura cotidiana que passam despercebidos. Ela também percebeu que, paradoxalmente, os impactos da arquitetura são mais intensamente presente quando as pessoas não estão na imagem.
Suas fotografias investigam as formas e estruturas dos espaços, assim como seus detalhes, uma abordagem que resulta em retratos muito pessoais de cada local. As imagens nos convidam a tirar um tempo para descobri e refletir sobre o que estes espaços fazem por nós e o que fazemos deles.
Seu imaginário tem se concentrado sobre estes interiores despovoados desde a década de 1980. Suas fotografias são agrupadas em séries sob temas tanto institucionais quanto geográficos, sendo a similaridade das formas de sua fotografia o principal fator dominante.
Höfer compõe meticulosamente seus cliques. Suas fotografias são tiradas a partir de um ângulo reto frontal clássico ou buscam a diagonal em sua composição. Ela procura clicar cada espaço inanimado a partir de um ponto de elevado, de modo que a parede oposta esteja centralizada na imagem resultante, revelando o melhor da arquitetura deste interior.
Seguindo o passo de seus mestres, ela tira fotos requintadamente emolduradas, que captam a simetria, o design, a elegância dos espaços criados pelo homem. Esta simetria é repetida e amplificada, assim como suas séries exploram os mesmos tipos de espaço infinitas vezes.
Às vezes o efeito é objetivo e distante; em outras, há um deslumbramento palpável pela vastidão do conhecimento humano (particularmente em suas imagens de bibliotecas). Outrora, a elegância e o design altivo dos espaços produzem certa tristeza e um vazio espiritual, como demonstrado em sua belíssima e melancólica série “Zoologischer Gärten”, onde os animais dos zoológicos aparecem como adereços, presos em um vazio mundo humano.
O interesse de Candida Höfer por interiores, que sempre são criados para um determinado fim, é perfeitamente comparável à sua motivação para reproduzir jardins zoológicos. Nos diferentes espaços em sentido amplo, misturam-se os aspectos que a fotógrafa enfoca em suas obras: organização, sequência, história, função, espaço vital e também a experiência sensorial e qualitativa do ambiente. Além disso, o zoológico funciona de certa forma como um museu, no qual os animais são expostos no espaço no lugar de esculturas, por exemplo.
Sobre sua decisão de excluir as pessoas de suas fotografias, Höfer disse: “(…) Tornou-se evidente para mim que o que as pessoas fazem nesses espaços – e o que esses espaços fazer por elas – é mais claro quando ninguém está presente, assim como um convidado ausente é muitas vezes tema de uma conversação”.
Para apresentar seu trabalho, Höfer não usa apenas a fotografia tradicional em vários tamanhos, ajustados às exigências de cada composição, mas também os exibe em projeções, recordando seu envolvimento inicial com o cinema e a sua apreciação por sequências de imagens.
Sua primeira exposição individual foi em 1975 na Konrad Fischer Galerie, em Düsseldorf. Desde então, Höfer realizou exposições individuais em museus de toda a Europa e Estados Unidos. Seu trabalho também apareceu em exposições coletivas no MoMA de Nova York; Power Plant, Toronto; Kunsthaus Bregenz; Museu Ludwig, Colonia; Museu Guggenheim, em Bilbao; e na Documenta XI, Kassel. Höfer representou a Alemanha na Bienal de Veneza 2003. Suas fotografias estão em grandes coleções públicas e privadas em todo o mundo.
A primeira retrospectiva de seu trabalho realizada na América do Norte foi exibida sob o título “Architecture of Absence” no Norton Museum of Art, em 2006. No mesmo ano, ela teve exposições individuais no Museu do Louvre, em Paris, e no Museu Irlandês de Arte Moderna, em Dublin.
Candida Höfer é representada pelas galerias Yvon Lambert (Paris), Sonnabend Gallery (Nova York) e Rena Bransten Gallery (São Francisco). A artista vive e trabalha em Colonia, Alemanha