O artista americano Cy Twombly (1928-2011) vem da mesma geração de expressionistas abstratos como Jackson Pollock, Arshille Gorky e Willem de Kooning e artistas pop como Jasper Johns e Robert Rauschenberg. Embora acolhesse em suas obras muitos elementos da cultura popular, Twombly seguiu outros caminhos e é um pintor difícil de ser catalogado.
Cy Twombly representou no mundo da arte a elegância conceitual e o emprego requintado das técnicas que a pintura e a escultura descobriram e desenvolveram na modernidade, sem negligenciar a erudição e a riqueza literária e histórica. Atraído pela cultura e literatura europeias, desde o classicismo grego e latino até ao modernismo, a sua obra está cheia de alusões literárias e referências mitológicas, de Vírgílio a Mallarmé ou Rilke.
Nascido Edwin Parker Twombly, herdou o apelido “Cy” de seu pai, ambos inspirados em Cy Young, armador para grandes times de baseball dos Estados Unidos. As aulas de arte começaram aos 12 anos, com o mestre catalão Pierre Daura. Depois da gradução, estudou na School of the Museum of Fine Arts, Boston (1948–49) e na Washington and Lee University (1949–50) em Lexington, Virginia. Através de uma bolsa de estudos, frequentou a Art Students League of New York (1950-1951), onde conheceu Robert Rauschenberg, que o encorajou a frequentar a Black Mountain College, na Carolina do Norte. Lá, Twombly estudou com Franz Kline, Robert Motherwell e Ben Shahn, além de conhecer John Cage.
Sua primeira exposição individual foi em 1951, na M. Kootz Gallery de Nova York, época marcada pela influencia do expressionismo gestual em branco e preto de Kline e o imaginário de Paul Klee em sua obra.
Na contramão da arte pós-guerra, mudou-se em 1957 para a Itália, onde viveu por mais de 50 anos, quando o mundo todo estava se transferindo para Nova York. Por toda a vida foi, sem dúvida, o artista mais europeu – em suas referências e mentalidade – dos artistas americanos.
Seus rabiscos e arranhões nas telas, à primeira vista, podem se assemelhar a uma arte infantil; mas, ao contrário, ele é um pintor erudito, sofisticado e emocional. Seu trabalho emergiu na década de 1950, em uma Europa pós-guerra que buscava se reconstruir – e em resposta ao seu entorno, em Roma, onde encontrou beleza e história, combinando aspectos das fontes tradicionais europeias com a nova pintura americana.
Twombly foi capaz de equilibrar a história da arte, aparentemente estática, com suas próprias reações sensuais e emocionais em relação a ela.
Escrita e linguagem serviram de principais conceitos para a maior parte da arte abstrata de Twombly. Além da palavra – usada na forma de poemas, mitos e histórias – ele também se voltou para o processo de escrita, tanto para esboçar rabiscos e manchas sem sentido quanto para gravar palavras sobre a tela a criar composições lineares, frequentemente inspiradas nas letras cursivas.
Suas obras esmaeceram a fronteira entre o desenho e a pintura. Muitos de seus quadros mais conhecidos do final da década de 1970 são reminiscências de quadros-negros escolares rabiscados ou grafites sobrepostos.
O artista produziu com menor frequência entre o final da década de 1970 e a década de 1980. Em meados dos anos 1970 retornou à escultura, um suporte no qual não trabalhava há 20 anos. Estas esculturas, muitas vezes focadas em temas clássicos, foram em grande parte montadas a partir de objetos encontrados e pintados de branco. A Itália continuou a influenciar seu trabalho; ele passou muito tempo na cidade portuária medieval de Gaeta e muitas de suas pinturas da década de 1980 refletiam o interesse dele pelo mar.
O artista demorou para conquistar tanto críticos quanto outros colegas. Mas quando Basquiat se inspirou em seus quadros, sua obra se abriu à interpretação da nova geração de artistas da década de 1980. Ainda assim, quando o MoMA montou uma retrospectiva de seu trabalho em 1994, Kirk Varnedoe, o curador da mostra, sentiu a necessidade de escrever um ensaio intitulado “Your Kid Could Not Do This and Other Reflections on Cy Twombly”.
As referencias aos clássicos persistiram nos anos posteriores. Twombly expandiu o uso restrito de cores em suas telas, aplicando-as em pinceladas gestuais que ocasionalmente retratavam formas mais reconhecíveis, como flores e paisagens. O artista sofreu de câncer por vários anos, quando finalmente veio a falecer em 2011, na Itália, aos 83 anos.
A despeito de seu persistente desdém pela fama e reconhecimento, Cy Twombly, juntamente com Robert Rauschenberg e Jasper Johns, é considerado um dos maiores pintores americanos depois do expressionismo abstrato. Sua estética distinta era tanto uma continuação das técnicas do Expressionismo Abstrato no pós-guerra e no cenário europeu que internacionalizou a arte contemporânea, quanto uma nova direção que usava as práticas “menores” da arte como as palavras escritas e os rabiscos, no contexto de historia da arte.
A empreitada artística de Twombly e seu significado estão repletos de contradições: seu trabalho (juntamente com os de Agnes Martin e Frank Stella) fez parte de uma das primeiras exposições a explorar as ideias do Minimalismo; por outro lado, a expressividade de sua obra cresceu a partir das raízes do Expressionismo Abstrato, influenciando o grupo mais recente de pintores neo-expressionistas.
Ao longo de sua carreira, Twombly recebeu inúmeras premiações. Em 1984, foi agraciado com o “Internationaler Preis für bildende Kunst des Landes Baden-Württemberg” e em 1987, com o “Rubens-Peis der Stadt Siegen”. Em 1996 veio a consagração com o importante Praemium Imperiale.
Em 1995, inaugurou em Houston a Cy Twombly Gallery, obra de Renzo Piano idealizada pelo proprio artista, que guarda uma importantíssima coleção de sua obra, desde 1954.
Twombly foi convidado a expor seu trabalho na Bienal de Veneza em 1964, 1989 e 2001, quando ganhou o Leão de Ouro durante a 49ª edição da Bienal. Em 2010 foi nomeado Chevalier of the Légion d’Honneur pelo governo francês. No final do mesmo ano, Tacita Dean produziu um filme sobre o artista, intitulado “Edwin Parker”.
No leilão de arte contemporânea da Sotheby’s, realizado em novembro deste ano em Nova York, uma de suas telas foi arrematada por US$ 70,5 milhões – um recorde absoluto. A tela, sem título fazia parte da série Blackboard e foi pintada em 1968 com tinta e lápis de cera.