Julian Schnabel | Artista do Mês | Outubro/2015

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Julian Schnabel (1951) desempenhou um papel fundamental no surgimento da pintura neo-expressionista nos Estados Unidos. Depois de duas décadas dominadas pela estética da arte minimalista e conceitual, a escala épica de Schnabel, as pinceladas gestuais e os temas figurativos marcaram uma mudança radical na pintura.

Schnabel nasceu em Nova York e, ainda jovem, mudou-se para o Texas com sua família, onde passou a maior parte de seus anos de formação. Incentivado a pintar pela sua mãe, teve seu interesse artístico despertado ainda na adolescência, quando se identificou com os muralistas mexicanos. Este envolvimento com a cultura mexicana e suas práticas religiosas, resquícios desta época em que morava com a família muito próximo à fronteira com o México, persistiu como uma fixação ao longo da vida e acabou por ser refletida em sua arte.

Depois de sua graduação na Universidade de Houston em 1973, Schnabel inscreveu-se no prestigiado Independent Study Program do Whitney Museum, onde foi aceito e deu início em sua carreira como artista. Em 1975, Schnabel teve sua primeira exposição individual no Contemporary Arts Museum de Houston.

Artista, cineasta, músico e escritor, Schnabel ganhou notoriedade no mundo das artes pela sua rápida ascensão após a famosa exposição Plate Paintings na Mary Boono Gallery em 1979, com suas típicas Plate Paintings. Com tamanhos monumentais, a superfície destes trabalhos é repleta de cacos de louça quebrada e coberta com camadas de pigmentos. A série, notável tanto pela sua dimensão quanto pela textura, foi concebida na década de 1970 depois de uma viagem de Schnabel à Barcelona, onde ele se identificou com os mosaicos de Gaudi.

As telas imensas preenchidas por cores vibrantes e traços fortes caracterizam as pinturas de Schnabel. Desde sua primeira exposição, quando despontou na cena de arte nova-iorquina, ele vem enfileirando seus trabalhos incomuns e cheios de emoções. Suas obras possuem uma margem obscura de brutalidade, enquanto permanecem impregnadas de uma energia vital. Schnabel afirma que ele busca um estado emocional, um estado em que as pessoas podem ser absorvidas ou engolidas.

A carreira mítica e muitas vezes controversa de Schnabel está enraizada em sua capacidade de 11transformar e mudar. Sua atitude barroca está incorporada em pinturas audaciosas que, ao longo do tempo, foram combinando pintura a óleo e técnicas de colagem; elementos pictóricos clássicos inspirados na história da arte e características neoexpressionistas; abstração e figuração.

Abordando temas amplos como sexualidade, obsessão, sofrimento, redenção, morte e crenças, ele empregou uma diversidade de materiais descartados, incluindo pratos quebrados, tecidos diversos – como panos de fundo de teatro Kabuki, lonas e veludos; uma infinidade de imagens, nomes e fragmentos de linguagem; assim como pinturas densas, resina e reproduções digitais. Ao serem construídas sobre suportes tão irregulares como a lona e o veludo, o caos pródigo das pinturas do artista são, em si, a rejeição do ascetismo minimalista, um verdadeiro marco de mudança para a pintura.

Ao lado de nomes como Jean-Michel Basquiat e David Salle, Schnabel fez parte de um contingente de artistas da década de 1980 que se esforçou para restaurar a pintura ao seu status pré-abstração. O estilo deles permitia expressividade, até mesmo exuberância, e em contraste com o intelectualismo generalizado da arte minimalista e conceitualista daquele tempo, balanceava preocupações técnicas com ressonância emocional. Como um neoexpressionista, Schnabel reintroduziu o sentimento humano à pintura e evitou a insipidez.

Seus pronunciamentos ousados sobre a sua própria importância para o mundo das artes gerou polêmico e até desprezo entre seus colegas e também por parte de seu público. Quando despontou no cenário artístico nova-iorquino, adquiriu fama quase imediata por seu estranho comportamento, franqueza e egoísmo. Insultado por alguns e encorajado – até mesmo adorado – por outros, Schnabel parecia restituir o culto ao artista boemio como um meio de auto-promoção descarada.

Ultrapassando a pintura, o impulso criativo de Schnabel o levou a se ramificar através da música, da fotografia e do cinema. Embora se identifique primariamente como pintor, ele tem recebido elogios da crítica por seus trabalhos como diretor de filmes, caminho por onde se aventurou a partir da década de 1990 e que considera uma extensão natural de seu trabalho simultâneo com a pintura.

Seu primeiro filme foi Basquiat (1996), seguido de Antes do anoitecer (2000), O Escafandro e a Borboleta (2007), o documentário Lou Reed – Berlim (2007) e, por fim, Miral (2010). “Antes do Anoitecer” levou Javier Barden a ser indicado ao Oscar por seu papel, enquanto “O Escafandro e a Borboleta” foi indicado a quatro prêmios pela Academia e recebeu dois Globos de Ouro, dois prêmios em Cannes e o prêmio BAFTA.

Além das pinturas e dos filmes, a criatividade fértil de Schnabel se estendeu a musica e a fotografia. Em 1995 ele lançou um álbum chamado Every Silver Lining has a Cloud. Em 2002 ele trabalhou na fotografia e na direção de arte do álbum By the Way do Red Hot Chilli Peppers.

Desde sua primeira exibição, Julian Shnabel esteve em grandes instituições e museus do mundo, como a Tate Gallery, Whitney Museum, Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofia, The Beijing World Art Museum, Dallas Contemporary e Museum of Art de Fort Lauderdale. No Brasil, em 2014, esteve em exposição simultânea no MASP e na Galeria Raquel Arnaud. Ele também foi selecionado para participar da Bienal de Veneza (980 e 1982) e Whitney Biennial (1981, 1983 e 1991).

Sua obra está incluída nas principais acervos de museus internacionais e coleções privadas.

Julian Schnabel

Formal Painting and His Dog; oil on canvas, 96 x 72″, 1974

Julian Schnabel

Projected Drawing Test; oil on canvas, 108 x 72″, 1973

Julian Schnabel

Bride; oil on canvas, 105 x 111″, 1973

Julian Schnabel

Dog in Revolving Door. Oil on canvas, 96 x 192″, 1973

Julian Schnabel

Untitled (Magazine). Oil on canvas, 106 x 72″, 1973

Julian Schnabel

Twisted Cruller. Oil on canvas, 114 x 96″, 1974

Julian Schnabel

Hawk, 1974. Acrylic, crayon on canvas, 62″ x 62″, 1974

Julian Schnabel

Jack the Bellboy or A Season in Hell, 1975. Oil, modeling paste, fiberglass on canvas, 72 x 48″, 1975

Julian Schnabel

I Don’t Want to Be King, I Want to Be Pope, 1977. Oil and wax on canvas, 78 x 52″, 1977

Julian Schnabel

Portrait of a Girl, 1980. Oil, plates and bondo on wood, 96″ x 84″ 1980

Julian Schnabel

The Jute Grower, 1980. Oil, plates and bondo on wood, 90″ x 120″, 1980

Julian Schnabel

Canard De Chaine. Oil, gesso, wood on velvet with banner, 126 x 96″, 1989

Julian Schnabel

Canard De Chaine. Oil, gesso on velvet, 126 x 96″, 1989

Julian Schnabel

Hat Full of Rain. Oil and marker on tarpaulin, 180 x 144″, 1996

Julian Schnabel

Hurricane Bob (Die Eiger Nortwand). Oil, gesso on white tarpaulin, 180 x 180″, 1991

Julian Schnabel

La Voz de Antonio Molina (Blue Painting). Oil on canvas, 82 2/3 x 94 1/2″, 1992

Julian Schnabel

Portrait of Tina Chow. Oil, plates, bondo on wood, 72 x 60″, 1987

Julian Schnabel

Portrait of Marco Voena. Oil, plates, bondo on wood, 70 x 60″, 2008

Julian Schnabel

Large Girl with No Eyes. Oil and wax on canvas, 162 x 148″, 2001

Julian Schnabel

Untitled (Chinese Painting). Oil and wax on tarp, 120 x 96″, 2003

Julian Schnabel

Versions of Chuck 1. Oil, wax, rabbit-skin glue on canvas, 108 x 96″, 2003

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