Após premiada retrospectiva realizada em 2013, Waldemar Cordeiro (1925-1973) ganha um novo olhar sobre suas investigações, que envolveram pintura, desenho, fotografia, experiências pioneiras com meios digitais, objetos, e uma profunda relação com o paisagismo e o urbanismo – aspecto enfatizado pela curadoria de Givaldo Medeiros e Analívia Cordeiro (que inclui documentos, maquetes e projetos), assim como pela expografia criada.
Autor de pesquisa acadêmica sobre o paisagismo de Waldemar Cordeiro, conduzida na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, Givaldo Medeiros defende que ele verdadeiramente fundiu as duas vertentes de investigação – a artística e a urbanístico-paisagística, que seriam como dois lados de um mesmo projeto, baseado tanto em premissas estéticas quanto ideológicas.
Não por acaso, a produção paisagística de Cordeiro permeia toda sua carreira. “A exposição contém maquetes, plantas e documentos que abrangem desde os anos 50 até os últimos anos de vida do artista – são projetos paisagísticos que refletem fortemente tanto os diversos momentos de sua produção quanto do panorama amplo da arte da época”, explica Analívia Cordeiro, filha do artista e gestora de seu legado.
Analívia esclarece também que “a ideia de um quadro ser tema ou base para um paisagismo é falsa. São pesquisas artísticas paralelas, cada uma com sua linguagem. Os princípios são, sim, comuns. Como exemplo, os princípios de semelhança e proximidade da Gestalt Visual usados no concretismo podem ser observados tanto nos quadros quanto nos jardins”.
Embora os jardins geometrizados de Waldemar Cordeiro pareçam obedecer a um pensamento grandemente formal, a ação humana concreta na disposição da natureza (elemento-chave do paisagismo) alia questões práticas e conceituais. “Existe uma intencionalidade no diálogo entre os elementos paisagísticos – espécies vegetais, água, elementos construtivos, além da própria arquitetura da edificação principal”, observa a curadora.
Essa rigorosa equação é um dos reflexos de uma personalidade artística intrincada e cuja coerência é tão profunda quanto sutil. Por exemplo, pode parecer obscura a maneira pela qual artistas como Waldemar Cordeiro e Geraldo de Barros conciliavam um profundo engajamento ideológico e político com a expressão abstrata. Mas, como o próprio Waldemar Cordeiro deixou claro, acima de qualquer engajamento artístico muito literal, interessava-lhe “elevar o sentimento visual do povo brasileiro à linguagem universal”.