A obra de Vik Muniz vai muito além do que o olho humano pode ver. Quem se depara com suas fotografias em grandes dimensões pode perceber que suas superfícies são apenas as mais evidentes de várias outras camadas, o que faz do artista um dos nomes mais conhecidos da arte ao redor do mundo. Partindo de uma residência no Massachussets Institute of Technology (MIT), ele radicalizou sua pesquisa de materiais com o uso de alta tecnologia para desenvolver suas duas novas séries, Sandcastles e Colonies. Ambas são a fusão da engenhosidade artística e do trabalho científico de ponta de nomes especializados, como o bioengenheiro Tal Danino. O cientista é o convidado de Vik Muniz na conversa que a Galeria Nara Roesler promove no dia 16.08, às 11h30, quando o artista traz ao público os bastidores dessa empreitada inovadora.
Danino e Vik Muniz trabalharam juntos na criação de sua série Colonies. Passando pelo processo de trazer o microscópico à visão comum, essa série é fruto de uma pesquisa que envolve bioengenharia de ponta. Tal Danino tem vasta pesquisa sobre as dinâmicas espaço-temporais de sistemas biológicos artificiais para aplicação precursora em energia, meio-ambiente e saúde. Uma de suas frentes é a identificação de bactérias que podem ajudar no diagnóstico de câncer. As imagens de padrões criados por determinados tipos de células com câncer, como as do fígado, fascinou Vik Muniz, que as reproduziu em grande escala. O resultado lembra estampas de arabescos e adamascados decorativos.
Já em Sandcastles, a bioengenharia cede lugar ao desenvolvimento eletrônico em nanoescala. Isso porque os trabalhos consistem em fotografias de microscópicos grãos de areia, nos quais são gravados castelos europeus. Esses castelos foram desenhados pelo próprio Vik com ajuda da camera lucida, um equipamento que projeta sobre o papel o objeto a ser reproduzido por meio de um jogo de espelhos. Com ele, o observador só precisa passar o risco sobre a imagem que já está refletida no papel.
Mas como gravar em grãos de areia desenhos complexos de grandes castelos? Foi nessa etapa do processo que outro profissional do MIT, Marcelo Coelho, foi de inestimável colaboração. O artista e designer desenvolveu em uma máquina do MIT a técnica de gravação dos desenhos nas minúsculas bases, com o uso de um feixe de ion focalizado e um microscópio escaneador de elétrons. Vik eternizou as gravuras em fotografias em negativo ampliadas em tamanhos colossais.
Com essas premissas, a conversa com Vik Muniz e Tal Danino promete ser uma instigante viagem aos limites da visão humana e às formas de subvertê-los, tornando evidentes nuances e padronagens impossíveis de serem alcançadas a olho nu. Assim, o artista amplia sua pesquisa artística sobre a representação, provando mais uma vez que nem tudo que vemos é exatamente o que parece ser.