A Galeria Nara Roesler abre a mostrada produção recente de um dos ícones da arte brasileira, entre os dias 1º de Abril à 6 de Maio, de Antonio Dias. As telas de sua exposição revela vigor e atualidade no trabalho do artista, que mantém sua inquietude na pesquisa por uma pintura orgânica, viva e em consonância com o tempo presente.
As telas da exposição revela vigor e atualidade no trabalho do artista, que mantém sua inquietude na pesquisa por uma pintura orgânica, viva e em consonância com o tempo presente.
A crítica Sonia Salztein comenta as telas de Dias: “o conjunto de pinturas recentes de Antonio Dias mantém-se no rumo tomado pelo artista desde meados da década de 1980. São trabalhos que confirmam procedimentos característicos do que ele iniciava naquele momento”. O que se vê são assemblages de telas justapostas, sobrepostas, unidas caoticamente, desconstruindo a noção bidimensional da pintura por meio de seus volumes e da irregularidade do contorno.
Mas não apenas essa alternância de enquadramento e superfície subverte o caráter pictórico tradicional: na aparente monotonia dos padrões impressos em cada um dos módulos pela pigmentação irregular, quase abandonada à própria sorte graças à deposição de materiais voláteis – pigmentos, elementos minerais, aglutinantes – Dias cria unidades cromáticas que integram o conjunto como peças de um mosaico, formando nuances visuais capciosas, a enganar o olho pelo rompimento abrupto das temperaturas de cor e das padronagens orgânicas.
Dias frustra a expectativa do olhar, num movimento que desperta o espectador acostumado à harmonia e à perfeição próprias do mundo tecnológico e industrial.
Ou ainda, novamente por Sonia Salztein, “disso tudo geralmente resultou, como também agora, uma pintura que antagoniza o estatuto óptico e a condição vertical do quadro, embora essa pintura sempre devesse se firmar em ambos, de modo obrigatório. O antagonismo se radicaliza e chega a um impasse na produção atual, e nisto reside a relevância dessas telas no debate contemporâneo da pintura – justo no disparate notável entre a ausência de expressividade declarada em cada uma de suas superfícies e a dramaticidade sobressalente, fora de lugar, que elas terão expulsado do quadro e que, se não pode doravante pertencer a ele ou à imagem acidental que dele inevitavelmente se desprende, fica implicada, e de modo tenso, no manejo distanciado e, digamos, ‘pára-pictórico’ dos materiais pictóricos. Essa dramaticidade fora de lugar, de que se tem notícia através da espécie de ritual ensaiado de procedimentos, é, conforme se disse, o que confere enorme interesse e atualidade a esses trabalhos.”
Transitando pela pintura, instalação, fotografia, livro de artista, vídeo e outras técnicas, Antonio Dias é descrito pelo crítico e curador Paulo Herkenhoff como “o nexo principal entre os neoconcretos e os artistas dos anos 1970: entre Hélio Oiticica e Cildo Meireles, Lygia Clark e Tunga, os não objetos e Waltercio Caldas, não se distanciando de Ivens Machado e Iole de Freitas, ou mesmo dos que atuavam nos anos 1960 ao lado de Cildo, como Barrio, Raimundo Colares e Antonio Manuel. Dias tempera a presença da palavra entre a arte conceitual e a tradição da poesia concreta”.