A sensação que se tem ao adentrar no atelier de Manuel Alvarez é muito incomum nos tempos de hoje: CALMA.
Uma das definições desta palavra é “sensação ou redução momentânea de uma atividade, um estado ou situação”. E, no preciso instante em que se toma contato com a pintura de Manuel Alvarez, calmaria é justamente o que se sente.
Há anos, Manuel Alvarez trabalha em silencio e, ao mesmo tempo, de forma rigorosa. Utiliza da geometria como linguagem, cujo caráter é sublime. Nada é casual, tudo esta aritmeticamente calculado e filosoficamente pensado. Tais características constituem etapas irrefutáveis de seu processo criativo, alem de uma introspecção profundamente ligada à ação.
Converteu-se em pintor abstrato desde 1952. Viveu em Paris entre 1954 e 1956, onde teve contato com Pettoruti e se consolidou com as idéias do matemático romano Matila Ghyka (1881-1965), autor de exaustivos estudos da seção áurea e influenciador de muitos artistas concretistas argentinos.
Em 1955, fundou a associação Arte Nova coincidindo com Ardem Quin, Blaszko, Tomasello, Vardánega e Villalba. Pettoruti descreve assim a pintura de Alvarez: “exatamente igual a ele, calada, limpa, clara, pensada, trabalhada… que não faz ruído… feita com amor de fogo e nível elevado”.
Em contraposição com o efêmero, o anedótico e a fugacidade de muitos extratos da arte de nosso tempo, reencontra-se com trabalhos que apostam na eternidade é um verdadeiro descobrimento e provoca profunda satisfação. Em tempos de poluição visual, de sobre dimensionamento de produtos artísticos, suas estruturas geométricas regidas pelo numero, pelo ritmo e pela proporção convidam-nos a entrar em harmonia com a silenciosa conversação, estabelecida pelas formas severas e cores que exaltam uma perfeição obtida com rigor e ofício depurado.
À luz da leitura de Santo Agostinho se interessou pelo tempo e sua relação com o espaço. Bergson propunha um tempo e uma organização em movimento denominados durée. O tempo agostiniano e o tempo bergsoniano são os conceitos nos quais Alvarez baseia seu trabalho.
Alvarez nos convida a uma reflexão a partir de cada uma de suas obras, desde a série das cidades – produzida nos anos 1960 – até as mais recentes, em que são perceptíveis o homem sábio, o pensador e o filósofo. A geometria, característica dos trabalhos de Alvarez, é resultado de sua paz mental. Ainda que a contemplação demorada seja difícil nestes tempos tão vertiginosos, a obra nos transporta a certos estados em que apenas a quietude e a calma se fazem necessárias.
GALERIA BERENICE ARVANI
Rua Oscar Freire, 540 – São Paulo – Brasil