A Casa Triângulo tem o prazer de apresentar a exposição individual de Sergio Romagnolo, intitulada A Feiticeira e as máquinas. O artista completa este ano 35 anos de uma carreira que abriga mostras em quatro Bienais de São Paulo, galerias e museus do Brasil e do exterior.
O CORPO DENSO DA IMAGEM
A passagem para a escultura e, dentro dela, para a escultura de plástico, um corolário natural, começou a acontecer ainda em 1986. O artista acentua-lhes seu caráter oco, como a destacar o corpo ausente que lhes serviu de molde, um princípio que, como já foi assinalado, pertence à máscara mortuária. Vale destacar que ao invés do bronze, material nobre, a chapa de plástico (poliestireno de 2 mm de espessura) foi, desde o início, o material utilizado.
Em seu Mitologias, Roland Barthes contrapôs o plástico à madeira, frisando sua aparência “simultaneamente grosseira e higiênica”, acusando-o de matar “o prazer, a suavidade, a humanidade do tato”1.Mais adiante, no mesmo livro, na sequência de seu comentário sobre a total versatilidade do plástico, afirma que não obstante essa sua potencialidade quase mágica, o plástico é a primeira substância a admitir o prosaísmo, a banalidade. E conclui: “o mundo inteiro pode ser plastificado, e mesmo a própria vida, visto que, ao que parece, já se começaram a fabricar aortas de plástico”2.
De fato, na qualidade de matéria, o plástico vale como sinônimo da era industrial, especialmente em razão de sua infinita maleabilidade, sua total docilidade às demandas mercantis, de tal modo que, derretido, ele, com a mesma facilidade, pode converter-se em balde, copo, vassoura, boneca, carro, banco, poste, casa, etc. Armado com um maçarico de gás propano, Romagnolo amolece a placa de plástico para em seguida encostá-la sobre o modelo de argila úmida, que tanto pode ser uma réplica de um profeta de Aleijadinho quanto a carroceria de um Fusca.
Qualquer que seja a matriz, como uma das esculturas da série produzidas a partir de modelos de meninas, ou inspirada numa escultura histórica, ou ainda num objeto industrializado, feito em série, a ação do artista consiste em “desfuncionalizar” o plástico, realizando a partir dele uma cópia mal-ajambrada, deliberadamente imperfeita, um rebaixamento do objeto que, curiosamente, termina por exaltar a expressividade do material, sua humanidade graciosamente bruta. Coisa semelhante acontece com suas imagens. Após as pinturas dos anos 1980, o artista retorna a essa linguagem com a série dedicada à Feiticeira, onde as imagens televisivas se embaralham, como se os frames que compõem a narrativa se sobrepusessem em múltiplas dobras. Como se as imagens ficassem fora de controle, ganhassem autonomia e, animadas com esse fato, se pusessem deliberadamente a procurar novas possibilidades, abandonando a clareza pretendida por nós, espectadores. Como se a narrativa do mundo entrasse em convulsão e nada mais tivesse um sentido claro.
SERGIO ROMAGNOLO A Feiticeira e as Máquinas
ABERTURA 15 DE DEZEMBRO DAS 20 ÀS 23 HORAS
DE 16 DE DEZEMBRO A 28 DE JANEIRO DE 2012_TERÇA A SÁBADO DAS 11 ÀS 19 HORAS