Numa sala central da Pinacoteca do Estado, em São Paulo, Carlito Carvalhosa construiu um gigantesco labirinto de tecido branco, quase transparente, e convidou o compositor Philip Glass para tocar piano lá dentro. De fora, era possível ver o vulto do músico e ouvir o eco dos acordes. Quem andava por dentro dos corredores de pano via silhuetas das esculturas do museu e o enxame de sombras dos passantes.
Um ano depois, o artista paulistano leva, nesta quarta, a mesma estrutura ao átrio do MoMA, em Nova York. Ele também é o artista escalado para inaugurar o anexo do Museu de Arte Contemporânea da USP, no antigo Detran, enchendo o prédio de postes.
De certa forma, esses trabalhos que transformam o espaço agora consagram o autor que despontou nos anos 90. Um livro que acaba de sair pelas editoras Cosac Naify e Charta, da Itália, analisa em retrospecto sua obsessão em moldar o espaço físico em experiências catárticas.
“É a ideia de memória como organizadora do lugar”, diz Carvalhosa. “Aquilo que se torna invisível ainda está lá, então tem mais a ver com confronto do que adaptação.”
No caso, suas esculturas criam um “enfrentamento” com o espaço ao redor. Mas acabam jogando luz sobre esse mesmo espaço e assumem a posição de escravas incômodas dessa arquitetura.
Ou também servem para exaltar os vazios e despropósitos do ambiente que ocupam. No fim do ano passado, o artista encheu de luzes uma galeria inteira em São Paulo. A sala vibrava branca, sem nada, num zunido elétrico que denunciava sua nudez.
Luis Pérez-Oramas, curador da mostra no MoMA e um dos autores do livro sobre Carvalhosa, enxerga nesse ato de desvestir a arquitetura uma herança dos ideais plásticos de Hélio Oiticica.
“Ele pensa a obra como vestimenta”, diz Pérez-Oramas, comparando as peças de Carvalhosa aos “Parangolés”, as roupas coloridas do neoconretista. “São trabalhos que só fazem sentido quando o corpo está dentro deles.”