Mostra em SP destaca o traço convulsivo de Georg Baselitz

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Um homem sem cabeça, de membro ereto, chuta uma caveira no chão. É feito de manchas, estilhaços de cor e traços erráticos. No plano de fundo, está um quadriculado de cores primárias, espécie de Mondrian transtornado.

Veja galeria com imagens de obras do artista

Toda a obra de Georg Baselitz, agora na Estação Pinacoteca, parece pautada por essa fúria viril e uma vontade de desestruturar a ordem.

Nesse quadro, a figura acéfala opõe uma potência erótica à morte e atenta contra qualquer anseio construtivo.

Baselitz é todo caos. E um tanto de controvérsia. Nos anos 60, outra tela em que retratou um menino se masturbando, ou um anão vítima de priapismo, chegou a ser confiscada pela polícia alemã.

Divulgação
A pintura "Piet de Calção (Remix)", de 2008, de Georg Baselitz, na Estação Pinacoteca
A pintura “Piet de Calção (Remix)”, de 2008, de Georg Baselitz, que estará na mostra da Estação Pinacoteca, em São Paulo

No plano histórico, esse artista se enquadra entre outros neoexpressionistas da Alemanha, onde nasceu, mas parece fundir ao estilo uma ironia um tanto corrosiva e farta dose de melancolia.

Suas figuras de ponta-cabeça, série extensa que ocupa uma sala inteira da mostra, surrupiam a leveza das figuras, retratadas em traços duros e suas máculas. Pernas violetas trajam saltos negros que se despedaçam no ar.

Tudo parece violentado, com marcas de bala, fraturas expostas e cortes secos. Na figura invertida de um homem de calção azul, o chão de ladrilhos ocupa o lugar do céu, jogando para a base da composição um vazio e, para o alto da tela, uma carga pesada.

Na última sala da mostra, ficam histórias interrompidas. Quase todas as figuras estão cortadas ao meio por tarjas de tinta, imitando falhas grosseiras na impressão.

São abalos na forma que emprestam caráter metonímico à pintura. Baselitz trabalha com fúria um descompasso entre forma almejada e a imagem que se completa na imaginação do espectador.

Dessa economia de meios e tinta estourada sobre a tela, fica só um desarranjo grotesco, com notas de cor aqui e ali, ecos de Kandinsky. Parece a vida vista entre rastros de turbilhões sangrentos.

GEORG BASELITZ
De hoje, às 19h30, até 30/1
Estação Pinacoteca
Lgo. General Osório, 66, Centro

Fonte: Folha de São Paulo
Por Silas Martí

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