Numa comparação que já se desenha inevitável, depois da ‘Bienal do Vazio’, de 2008, a 29.ª Bienal de São Paulo, que será inaugurada para convidados no dia 21 de setembro e dia 25 para o público, vai ser bem cheia. Convidada pelos curadores Moacir dos Anjos e Agnaldo Farias para trabalhar a expografia desta edição, a arquiteta Marta Bogéa se lançou ao desafio de enfrentar o emblemático edifício projetado por Oscar Niemeyer: desta vez, o visitante da mostra vai se deparar com um labirinto fluido e de paredes com tonalidades e temperaturas diferentes do branco tradicional. Pensando em atrair o público para experiências diversas no espaço, ela batizou seu projeto de “arquipélago”.
Robson Fernandjes/AEA arquiteta com a maquete do edifício: desde julho está sendo montada a estrutura
Para acomodar as obras de 148 artistas participantes no grande pavilhão do Parque do Ibirapuera e, ao mesmo tempo, promover um percurso instigante pela exposição, Marta propôs um trajeto pelos quatro pavimentos do prédio. No andar térreo, com entradas pelas laterais – uma delas, de frente para a marquise que acomoda o MAM – , o passeio começará mais aberto e feito apenas por algumas linhas. Depois, ele se adensa completamente, tendo o segundo andar como auge dessa experiência de agrupamento.
Neste segundo piso – que na 28.ª Bienal estava completamente vazio, estimulando o apelido que a mostra ganhou – o público vai se sentir como numa “cidadela medieval”, diz Marta se referindo a um feliz comentário que escutou. “Na surpresa do percurso, encontraremos um ou outro núcleo – e isso nasceu nas primeiras conversas com os curadores, quando eles deram algumas chaves importantes do projeto da 29.ª Bienal: o espaço é contínuo, mas não precisa ser hierarquizado”, conta a arquiteta, que optou pela concepção de “uma geometria a partir de uma malha de diagonais”.
Referência. “Você pode se perder como em todo bom labirinto”, ela brinca, mas vale ressaltar que, de maneira alguma, a experiência no espaço será claustrofóbica apesar da criação de núcleos com quinas e de uma quantidade grande de salas (vídeos e filmes são presença forte nessa mostra) e da determinação dos seis “terreiros” (espaços especiais da mostra) de 120 m² que se espalham por todo o edifício. Já é uma marca da arquiteta, em seu segundo trabalho em Bienal de São Paulo, criar projetos expográficos nos quais sempre o pavilhão de Niemeyer (com pilares e paredes envidraçadas) e o Ibirapuera são a referência para o visitante. “Quem quiser escapar do labirinto tende a ir em direção aos vidros, os caixilhos, para encontrar o eixo do edifício em sua dimensão completa.”
“O Agnaldo (Farias) fez uma metáfora: é como no Rio de Janeiro, em que você vai para a linha do mar para encontrar a paisagem”, diz ela ainda, completando que num tipo de exposição tão extensa, essa é uma maneira de “o público ter direito de escape”. Outro artifício usado pela arquiteta foi o de criar paredes com alturas diferentes (de 3,10 m e de 4,10 m) e que nunca chegam ao teto dos pavimentos, fechando o que seria uma visada geral.
Em 2006, ela assinou o projeto expográfico da 27.ª Bienal, a convite da curadora-geral daquela edição, Lisette Lagnado, criando, na ocasião, uma das colaborações mais precisas e inteligentes daquela exposição (leia ao lado). “A diferença, como arquiteta, é que naquela vez o pavilhão era uma novidade para mim. É uma das grandes obras de Niemeyer, difícil de trabalhar na medida em que é um prédio encantador”, diz Marta, que desde 1997, no Arte/Cidade 3, está se dedicando diretamente à arquitetura de exposições.
“Talvez a arquitetura mais difícil de se colocar uma presença é aquela que já traz em si uma potência. E, nesse caso, a de Niemeyer é linda, se resolve, constrói espaço atípico e variado. E seu vão é dos grandes espaços de verticalidade. Ele próprio já encaminha para visuais inesperadas quando você bordeja o vão”, ela analisa.
Camila Molina – O Estado de S. Paulo
Fonte: Estadão.com.br